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Em outro lugar

Escritor de língua inglesa, famoso por suas viagens, descreve os dois tipos mais notórios de escritores, os sedentários e aqueles outros que se sentem paralisados entre quatro paredes.

*Bruce Chatwin

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Aqueles de nós que pretendem escrever livros parecem se enquadrar em duas categorias: os estáveis ​​e os itinerantes. Há escritores que só trabalham “em casa”, com a cadeira certa, as estantes de dicionários e enciclopédias, e agora talvez com o computador. E depois há aqueles outros, como eu, que estão paralisados ​​pelo “lar”, para quem o lar é sinônimo do proverbial bloqueio de escritor, e que ingenuamente acreditam que tudo ficaria bem se eles simplesmente se encontrassem em outro lugar. Mesmo entre os muito grandes encontra-se a mesma dicotomia: Flaubert e Tolstói, que trabalham em suas bibliotecas; Zola, de armadura ao lado de sua mesa; Poe em sua cabine; Proust numa sala revestida em Cortiça.

Por outro lado, entre os itinerantes está Melville. No que me diz respeito (e vale a pena), tentei escrever em lugares tão variados quanto uma cabana de barro africana (toalha molhada na cabeça), um mosteiro no Monte Athos, uma colônia de escritores, um barraco em um terreno baldio e até uma loja. Mas assim que chega a tempestade de areia, ou começa a estação das chuvas, ou uma britadeira destrói qualquer esperança de concentração, amaldiçoo-me e pergunto: “o que estou fazendo aqui, por que não estou na Torre?”

Bruce Chatwin
Uma torre na Toscana

Foto: Bruce Chatwin