*Franklin Jorge
Um jovem aspirante a jornalista já com o diploma na mão, reconheceu-me e quis saber se eu era de fato quem ele pensava que eu fosse. Aquiesci com a cabeça, sem palavras, porque naquele dia não me sentia disposto a perder tempo com conversas fiadas. Queria, na verdade, estar só, por isso sentei-me em um café, num shopping pouco frequentado, porque destinado, segundo eu soubera alguma vez, a consumidores com maior poder aquisitivo. uma forma de selecionar a clientela. Diferente, portanto, da rafaméia que abarrota o Midway Mall e por isso mesmo está no meio do caminho, embora tenha sido construído sob a forma de uma pirâmide para convenientemente separar as classes sociais. embaixo, os pobres que não tendo o que fazer vêm se divertir, olhando as vitrinas; nos andares superiores reúnem-se os que consomem alguma coisa.
Um escritor evidentemente é alguém que se distingue por não ter dinheiro, embora desfrute de alguns privilégios, como frequentar lugares como aquele em me achava, sozinho, tomando café e fazendo algumas anotações que me poderiam ser úteis, fosse para a elaboração de um artigo ou de texto mais ambicioso, como aspiro escrever, ou seja, para leitores que vivem ou pensam não como os seres da planície.
Mas voltemos ao meu jovem companheiro de oficio – pois também já fui jornalista numa época quando havia jornais. – Um jovem bem vestido e aparentemente educado, que no entanto não parecia querer deixar-me sozinho com os meus pensamentos; senti que de alguma forma ele desejava extrair alguma coisa de mim. Uma palavra que fosse sobre meu processo de escrever. Ele declarou que eu seria famoso entre seus colegas de faculdade, e muitos, como ele próprio, desejavam ter feito seus TCCs tendo-me como objeto de suas especulações intelectuais, mas eram todos desencorajados por alguns professores que alegavam ser eu um estranho no ninho, alguém a quem não se deve dar trela para não embaralhar o meio do campo; em resumo, alguém que não era bem visto pelo oficialismo e isto não podia resultar em boa coisa numa cidade dominada por empregados do governo ou de seus satélites.
“Mas, sempre me interessei por seus escritos e desejava há muito conhecer o senhor e puder trocar algumas palavras com um homem que tem aspirações e se esforça para cair de grandes alturas”, disse-me, por fim, esse jovem que não era parvo, como se vê, por suas palavras. “Alguém que apesar dessas recomendações eu desejava ardentemente conhecer, a ponto de saber seu endereço e telefone”.
É escusado dizer que fiquei um tanto encantado com sua conversa que se poderia descrever como objetiva e sorrateira. Digna de um futuro grande jornalista que, no entanto, ele jamais o seria, por não haver mais jornalistas neste mundo, pelo simples fato de não mais existirem jornais.
