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Ensinar é a profissão das profissões

Nadja Lira jornalista, pedagoga, filósofa escreve sobre a importância da educação enquanto medita sobre o descompromisso político que permeia o debate sobre o assunto no Brasil.

*Nadja Lira

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Ensinar é uma arte que vicia. É como uma droga, que uma vez experimentada, cela seu destino para sempre. É uma sensação que vai entrando pelas narinas, invade o cérebro e toma conta de todo o corpo, deixando o indivíduo completamente dominado, dependente, viciado.

Dentro de uma sala de aula, o professor sente-se realizado, poderoso, “o dono do pedaço”, porque naquele espaço ele pode ser quase tudo: pai, mãe, amigo, confidente, conselheiro, psicólogo ou enfermeiro.

A sala de aula é o habitat natural do professor, que muitas vezes, na tentativa de tornar sua aula mais atraente, se transforma num palhaço, e ali, naquele picadeiro, ele canta, encanta, dança, rodopia, discursa e faz uma plateia sorrir. Outras vezes ele se transforma num ator e dá vida a vários personagens com um único objetivo: fazer com que os alunos entendam as teorias e os teoremas explicados.

Se existe dificuldade no desempenho de uma função, esta se encontra justamente na do professor – aquele que forma todos os outros profissionais, tais como médicos, engenheiros, advogados, jornalistas, enfim, nenhum profissional pode se formar sem antes passar pelas mãos experientes de um professor. Nem mesmo o próprio professor.

Desde o meu tempo de criança escuto as pessoas falarem sobre as responsabilidades que cercam a vida de um professor. Além de se exigir que ele tenha uma resposta pronta e satisfatória para todas as perguntas, ele ainda carrega sobre os ombros, o peso de ser responsável pelo destino de uma nação. Afinal, todo mundo está cansado de saber que “tudo começa pela escola”.

Ocorre que, quando tudo está mal na Educação, a culpa recai sobre os ombros do professor, que não está cumprindo bem o seu papel. Quando tudo vai bem, o mérito é de todos. Menos do professor, que nada mais faz do que cumprir com a sua obrigação.

Também existe um consenso, quase geral, de que professor não trabalha. Ora, um professor que porventura atue em apenas uma escola, precisa preparar planos de aula, corrigir atividades e atualizar cadernetas, entre outros afazeres, que não são possíveis de realizar em apenas vinte minutos. Imagine, então, o estresse daquele que trabalha em duas ou mais escolas. As suas atividades, portanto, extrapolam seu horário de trabalho e ele não é remunerado para trabalhar em casa.

Mas, no Brasil existe uma medida visando melhorar a qualidade da Educação no País e incentivar os profissionais da área: o governo federal instituiu o Piso Nacional de Salários para a categoria, com o objetivo de valorizar e estimular os profissionais da área. É importante destacar, que o valor fixado para os professores, ficou abaixo daquele estipulado para os enfermeiros. Para corrigir a distorção, o ex-presidente Bolsonaro determinou um reajuste de 33,24% para os educadores do País, medida que deixaria o salário básico de um professor, estimado em quatro mil e poucos reais.

Ocorre que, para os professores receberem reajustes salariais não é tão fácil como parece. Os governantes deste País têm dinheiro para tudo. Menos para melhorar salários e condições de trabalho para os profissionais da área de Educação. Desse modo, os professores devem primeiro provar que merecem receber tal salário. Para isto são submetidos a uma prova a cada dois anos e os aprovados passam a receber o “merecido salário”, que na ótica dos governantes, incentiva os professores a se dedicar mais ao seu trabalho.

Na condição de cidadã que paga em dia seus impostos, eu gostaria muito de saber a que provas são submetidos os nossos nobres representantes com assento no Congresso Nacional, quando decidem aumentar seus salários, reduzir sua carga horária de trabalho e ainda se auto conceder benefícios quando precisam trabalhar de forma extraordinária, porque deixaram de realizar suas tarefas em tempo hábil.

O mais grave é verificar que uma boa parte de governantes por este Brasil afora, se nega a pagar o valor estabelecido pelo governo federal, com a desculpa de que o País não tem dinheiro suficiente para tal. No entanto, o que se vê diariamente nos noticiários, são os gastos exorbitantes do atual presidente, nas suas viagens internacionais e na criação de Ministérios. Neste País tem dinheiro farto para tudo. Menos para pagar salários dignos àqueles que carregam a nação nas costas.

Minha grande preocupação é que algum dia, estes governantes que teimam em desrespeitar o trabalho dos professores, hão de querer contratar profissionais da Educação, mas não vão encontrar pessoas interessadas na realização do trabalho. Afinal, diante da forma como a Educação e os profissionais do setor veem sendo tratados, estou começando a pensar que os governantes deste País não passam de Papa-Figo e comem mesmo fígado de criancinhas.