*Reynivaldo Brito
Hoje vamos falar de João Alfredo Bittencourt, natural da vila da Mirandela, com 77 anos de idade. Tem uma trajetória de luta pela sobrevivência desde muito jovem e já foi um próspero comerciante atuando em vários segmentos a ponto de ter mais de 70 funcionários. Experimentou momentos de dificuldades perdendo quase tudo que tinha conquistado e teve até que vir para Salvador, em busca de ajuda de um irmão negociante de automóveis. Refez sua vida e atualmente já se apresenta como um comerciante que atua nos ramos de locação de automóveis e mercado em Ribeira do Pombal. Tem a política no sangue e uma boa memória capaz de relembrar detalhes dos bastidores da política de Ribeira do Pombal das últimas décadas em que não apenas foi um espectador, mas um atuante protagonista. Ele não soube explicar as razões, mas tem uma tendência de sempre se indispor com o grupo político que apoia e quase sempre se torna seu opositor.
O João Alfredo de Bittencourt é filho de João Alfredo Almeida Bitencourt e de Maria Batista Bitencourt, nasceu em 5 de março de 1945, na Vila da Mirandela, de uma família de onze irmãos, Antônio de Alfredo, Jorge (falecido), José (falecido), Pedro, Raimundo, sendo seis homens e cinco mulheres Sebastiana, Raimunda, Josefa, Ana Maria e Joana. A origem de minha família é do povoado de Tamboril, onde meu bisavô fundou aquela povoação e chamava-se João Batista Bittencourt de Aragão (Batistão), que era um magistrado que se apaixonou, casou e acabou se transferindo de Salvador para morar naquele local. Ele a conheceu em Carnaíba do Pires que era filha de um coronel dono de grandes extensões de terras na região.
Na Mirandela foi estudar aos 8 anos de idade na escola da professora Maria Amélia Bittencourt. Naquela época as crianças só podiam estudar a partir dos 8 anos de idade. A professora era sua prima e pouca gente tinha uma formação escolar naquele tempo. Isto foi uma marca da família Bittencourt sempre procurar uma boa escolaridade. Estudou com ela até o terceiro ano primário e fui em 1956 para Escola Rural da Mirandela e tinha como professora Francisca Alice Costa, que era de Ribeira do Pombal, mas que ensinava na Mirandela. “Era uma grande mestra, uma grande educadora. Com ela aprendi muita coisa, na realidade era de uma família de professoras como Enide Costa, Francisca, Maria José, Salomé e seu irmão José Dantas Costa. Eu tinha vocação para estudar, mas naquele tempo não tinha o segundo grau em Ribeira do Pombal e ao concluir o primário teria que ir para Alagoinhas, mas meu pai não tinha condições de bancar os meus estudos. Lembro de uma frase dita pela professora Francisca, eu ainda adolescente, ai meu pai respondeu a ela que não tinha condições. Foi ai que ela retrucou “peça até esmola, mas bote este menino para estudar.’ Esta frase até hoje ecoa nos meus ouvidos”. Eu tinha muita vocação para estudar. O tempo passou e me conformei, passei a trabalhar na lavoura com meu pai. Aos 14 anos, em 1960, fui para São Paulo procurar trabalhar, tentar a vida. Lá fui trabalhar no Pata, que era uma fábrica de produtos de plásticos. Trabalhei dois anos por lá e resolvi voltar com 16 a 17 anos trabalhei muito em olaria, serviço pesado. Mas, sempre almejando abrir um comércio, e já em 1963 consegui abrir um boteco na Mirandela. Aprendi muito e foi crescendo e com dois anos já tinha o maior comércio da Vila da Mirandela. Passei a ser proprietário de olaria, comprei um caminhão e fui crescendo no comércio, adianta João Alfredo.”
“Já na década de 1970 vim para Ribeira do Pombal, e aqui me estabeleci. Abri um comércio onde progredi muito chegando a ser um dos maiores comerciantes da região, talvez o maior, cheguei a ter 70 a 80 empregados com carteira assinada. Tinha distribuidora de gás, indústria de milho e supermercado. Foi uma vida de muito trabalho. Constitui família na década de 1960 casando-se com Maria Eurides Ferreira Bittencourt, que também era da Mirandela e tivemos quatro filhos: José Augusto, José Roberto, Alessandra e João Alfredo Filho. Foram estudar em Salvador e todos têm curso superior. Foi o grande cabedal que dei à meus filhos. Vivemos 32 anos, mas a vida muda, e se encarrega de mudar as coisas. Hoje estou ainda no comércio, evidente não naquele nível que tive antes, mas sempre com a cabeça voltada para o comércio. Tenho outra família hoje e uma filha de 22 anos, a Joana Alves Bittencourt que está na Faculdade, com e minha atual esposa Lucineide Alves dos Santos. Estamos juntos há quase 30 anos. Me sinto feliz e realizado, não tenho vaidades. Entendo que a gente obedece a um ciclo princípio, meio e fim, e eu já estou caminhando para esta parte do fim. Não tenho muita coisa a fazer mais. Tenho esta menina que estou educando.”
Vida política agitada – Veja como as coisas mudam. No meu tempo de criança a política já era polarizada em Ribeira do Pombal, e hoje se fala em polarização da política nacional entre o Presidente Bolsonaro e o ex-presidiário Lula, como se fosse um coisa ruim. Aqui eram os Bocas Brancas representados pelo grupo de Ferreira Brito, do PSD, e os Boca Pretas pelo grupo de Cardoso Brito que era da UDN. Na época do Dadá eram os Pardais e Nilson Brito os Morcegos. Depois passaram a chamar de Grilos, os que do grupo de Nilson Brito e os Pardais representados por Dadá. Atualmente Zé Grilo é o líder dos Pardais. Disse seu João Bittencourt que começou sua vida política na escola com a professora Maria Amélia Bittencourt que era muito envolvida com a política. Na época existiam aqui os partidos políticos PSD e UDN e ela era udenista. Terminei gostando da política e já adolescente comecei a acompanhar em 1958 o general Juraci Magalhães, tudo pelo rádio, que tinha uma hora certa de a gente se juntar para ouvir o noticiário. Em 1962 já estava adulto e foi uma eleição para vereador, prefeito, deputados federal e estadual e Governador. Dei meu primeiro voto em Nilson Brito para vereador, votei em Clidionor Ferreira Rocha (Nozinho), que foi um candidato arranjado de última hoje e votei em Lomanto Júnior. A eleição para Presidente foi antes em 1960, e não votava, mas torci pela vitória de Jânio Quadros.
“Continuamos na política e apoiamos Pedro Rodrigues, que tinha perdido em 1976, e Nilson Brito abriu mão e foi ser vice dele, sem a menor resistência, embora ele fosse o candidato natural porque tinha os votos. Lembro de Nilson Brito me dizer: “Precisamos ganhar a eleição.” Não era fácil ganhar de Ferreira Brito. Eu fui eleito vereador, Tota Santos e dr. Nelson também. Ganhamos com 1.400 votos de frente. Naquela época eram muitos votos! Elegemos 10 vereadores de 13 que compunham a Câmara Municipal. Foi uma vitória maiúscula. Fui eleito Presidente da Câmara, tendo continuado com meu comércio. Era muito amigo de Tota Santos, mesmo depois dele ter morrido há mais de 20 anos sempre lembro dele. Sei que Tota Santos arranjou uma briga com o tio que era o prefeito Pedro Rodrigues e voltamos para a oposição. Levamos vários vereadores.”
Já em 1966 estava envolvido e Nilson Brito me convenceu a votar em Nailton Brito, seu irmão, e o candidato único a prefeito Pedro Rodrigues. Estava na trincheira da oposição em 1970 e veio nova eleição e fizemos um grande movimento, inclusive nas ruas com os estudantes e elegemos Dr. Décio de Santana, o qual Ferreira Brito o apoiou de última hora. Foi uma eleição dura. Nilson Brito se promoveu com este movimento e depois da eleição de dr. Décio sua esposa Lúcia Bacelar foi ser a Secretária de Educação Municipal. Foi ai que Nilson Brito vendo o meu envolvimento na política me convidou para ser candidato a vereador. Como gostava da política terminei entrando e sendo eleito com uma boa votação e Nilson Brito perdeu a eleição de prefeito, mesmo apoiado por dr. Décio Santana. Isto foi em 1972 o meu primeiro mandato. Terminei em 1975 sendo Presidente da Câmara e até assumi a Prefeitura por 30 dias, porque naquela época não existia a figura do vice-prefeito. Ferreira Brito veio para Salvador se submeter a uma cirurgia no coração. Com seu retorno fiz amizade com ele e muito jeitoso.
Em 1976 e passamos a apoiar o grupo de Ferreira Brito. Sendo o Edval Calazans (Divá) que era muito querido e Ferreira Brito me chamou no dia da convenção e disse que eu seria candidato a vice-prefeito. Houve uma resistência, mas Ferreira Brito era assim, consultava todos os amigos, mas no fim prevalecia a vontade dele. Do outro lado, o concorrente era Pedro Rodrigues e o vice Antônio Bernardo Costa. Foi um páreo duro, uma campanha pesada e ganhamos por apenas 97 votos de vantagem. Nunca houve uma eleição em Ribeira do Pombal como esta. Assumi como vice-prefeito isto em 1977, e logo depois me indispus com Divá. Voltei para a oposição. Roda, roda e roda sempre volto para a oposição. Tinha uma vida comercial arrumada. Fizemos um grupo com Antônio Rodrigues dos Santos (Tota Santos), Antonino Ferreira Nobre (Vandinho) e Antônio Passos Conceição (Cabeção), João |Batista Ribeiro (Zito da Cachaça), dr. Nelson Cardoso, José Martins Carvalho (Zé Bagaço), Salustiano Barreto Mendonça (Salú), José Carlos Oliveira (Ninho de Himério) e muitos outros. Este grupo era independente e quando chegou a eleição de 1980. A lei previa a eleição em 1980, mas o regime militar prorrogou os mandatos até 1982.”
“Em 1986 Nilson Brito tinha assumido a Prefeitura e veio a disputa pelo Governo do Estado entreWaldir Pires e Josaphat Marinho. Já estávamos junto com José Renato, porque Ferreira Brito morreu em 1985, e Waldir Pires ganhou a eleição. Tocamos em 1988 tentamos fazer uma candidatura de oposição aí o Edval Calazans (Divá) quis ser candidato, e eu fiquei segurando. Seu filho Dadá tinha chegado e disse que seu pai não renunciava à candidatura. Eu tinha brigado com ele e o Salú, Tota Santos, Ninho e outros não queriam ele. Terminei fazendo um acordo com Nilson Brito e aí saiu dr. Nelson Cardoso como candidato e Divá foi ser vice. Nosso grupo estava forte e ganhamos com 3 mil votos. Nilson Brito prefeito, e eu era o vice. Eu caminhava para ser o candidato natural a prefeito. Tinha uma resistência contra mim que queria ser Presidente da Câmara, então voltei para a oposição.”
Chegamos a 1992 e eu queria me candidatar a prefeito e Dadá que era vereador também queria ser candidato. Não chegamos a um acordo. A política não tem lógica. Nilson ao invés de apoiar Vandinho apoiou José Renato, filho de Ferreira Brito. Me procuraram a investi na minha candidatura com apoio de dr. Nelson Cardoso, Vandinho e Antônio Cabeção, e outros. Tomei gosto, mas não fui bem-sucedido. Zé Renato ganhou, eu e Edvaldo Cardoso (Dadá) somados os votos tivemos 9 mil e Zé Renato se elegeu com 7 mil votos. São coisas da política.
Em 1996 já não tinha mais força na política. O Vandinho queria ser candidato de oposição e aí o Dadá não abriu mão de sua candidatura. Acho que Vandinho ficou muito vaidoso e através do dr. Jairo nos levaram para Dadá na casa de Zito da Cachaça, e Dadá me perguntou se aceitava ser o vice dele. Coloquei meu filho José Augusto para ser vereador. Houve muita confusão e Nelson Cardoso termina sendo o vice. Dadá é empossado e pegou a pasta de Educação com muitos recursos. Nem me chamou para a posse. Fui ser Secretário de Obras, porque a necessidade me obrigou, naquele momento. Fiquei um ano, espaço muito curto, sem condições nenhuma. Procurei o Dadá e disse-lhe umas verdades e fui tocar minha vida com dificuldade.”
“Chegou o ano 2000 e Dadá com um trabalho bem avaliado foi para a reeleição. Nilson Brito me convidou para ser vice. Vieram outras confusões e fui ser candidato a vice. Perdemos, foi uma eleição disputada. Em 2002 ganhamos na Justiça e fomos tomar posse. Ficamos 40 dias e a Justiça terminou dando o mandato a Dadá. Em 2004 Nilson Brito não quis ser candidato e apoiamos o Zé Grilo e ganhamos a eleição. Ele fez um bom trabalho. Em 2008 veio a eleição e Zé Grilo se candidata a reeleição. Em 2012 o Ricardo Maia tinha sido bem votado para vereador apoiado por Zé Grilo e outros candidatos eram Manoel Luiz Oliveira (Sampa Rio) e Antônio Bernardo Costa Neto (Toninho). Lá atrás vinha o Ricardo Maia. Do outro lado, seria o Edvaldo Cardoso (Dadá) e Vandinho. Ricardo Maia venceu e era até então homem de confiança de Zé Grilo.”
“Entrei na campanha e os Britos vieram com o filho de Dadá. Passei uma semana na casa de Nilson Brito para ele apoiar o Ricardo Maia. Até que ele se convenceu. Ganhou a eleição. Entrou fazendo um bom trabalho e deu um chega para lá no seu mentor Zé Grilo. Quando veio 2016 o Dadá colocou o Moura, mas Ricardo Maia foi reeleito. Depois colocou como seu candidato o Erickson Santos Silva e reuniu o grupo. Os filhos de Dadá fizeram uma composição e Zé Grilo como candidato, mas foi interditado pela Justiça Eleitoral. Aí ele colocou a esposa Nair como candidata, mas perdeu. A política me prejudicou muito na vida pessoal e financeira. Não me arrependo do que fiz. Fui eu que quis fazer isto. Perdi e quebrei. Ainda quero ver outras eleições e participar. Não vou para a linha de frente, mas quero participar”, finalizou.
Em seu depoimento o ar. Antonino Araújo, 63 anos, funcionário público, meu pai Waldomiro Araújo estão com 94 anos e lúcido. Para mim um grande batalhador da vida. Quero falar de um amigo que é também amigo de meu pai João Alfredo Bittencourt, conhecido como João Alfredo. É um grande lutador e sempre que poso vou na casa dele tomar um café contar histórias do passado, que me envolvem também. Quando tinha 13 anos embarquei num caminhão dele, que fazia a linha de Euclides da Cunha para a feira de Ribeira do Pombal, e daqui fui para São Paulo sem meus pais saberem. Sempre que encontro com ele relembro alguns fatos e dar boas risadas. Ele fala da olaria onde
trabalhou, foi vice-prefeito aqui e hoje é um comerciante. A filha Alessandra Alves Bittencourt disse que “não seria possível falar do nosso pai sem considerar o seu compromisso com a nossa formação, em todos os sentidos. Trabalhador obstinado, a perda de seu filho Dener o faria lutar para que nós outros tivéssemos acesso. Acesso à saúde, à boa educação e conforto – mas não, necessariamente, luxo. Também recebemos muito amor. Papai era amoroso, sem perder a firmeza sobre nós e sempre foi muito exigente quando se tratava da nossa moral e ética. Este resumo seria bem completo, não fosse pelo fato de não dar à educação o peso que ele de fato deu.
Ele nunca mediu esforços para que recebêssemos a melhor educação. Entendia bem que, para obtermos êxito, precisaríamos de exemplo. Leitor ávido, mesmo sem ter concluído os estudos naquela época, não faltava em casa livros, enciclopédias e revistas. Lembramos bem que ele voltaria à escola para concluir sua a formação através do Programa Supletivo. Até onde pudemos assistir, esses valores nortearam a forma como se relacionou com os seus funcionários e clientes, sempre incentivando e acreditando que as pessoas podem ir além de seus próprios limites por meio do esforço e do conhecimento. Sabemos que ele lutou muito para que os valores praticados em família e com aqueles que lhes eram caros, pudessem alcançar muito mais pombalenses.
Pois bem, os seus esforços não foram em vão. Como pai, ele formou dois engenheiros, um economista e um empresário que seguem muitos dos seus exemplos e semeiam amor. E já não fosse muito, ele continua o seu trabalho árduo para viabilizar a formação de sua filha mais nova, inteligente e estudiosa, que trilha o mesmo caminho que ele nos ensinou. Além disso, conhecemos muitas pessoas cujas vidas foram transformadas por esse amor à educação que ele carregava e que tanto nos inspirou.”
“Para o sr. Antônio Pereira da Costa, (Antônio Chorão) 82 anos, tivemos muito tempo de lados opostos, mas sempre foi um político direito, honesto em suas palavras. Tudo que ele fez foi bem-feito e com responsabilidade. Labutei com muitos políticos, porém nenhum igual a ele. Foi traído por muitos e é difícil encontrar um homem igual a ele. Quem negociou com ele torna-se amigo aqui em Sergipe e em qualquer outro lugar. ” Ele terminou se emocionando e chorando, numa demonstração o porquê do apelido de Antônio Chorão. Ribeira do Pombal perdeu por não ter elegido ele prefeito. Ele foi traído por muitos que se diziam amigos e por várias vezes mostrei a ele que estava sendo enganado.”
NR- Agradecimentos a meu parceiro Hamilton Rodrigues por sua busca de informações para escrever este texto. Estava pronto para chegar ai na última quinta-feira, mas devido um problema de saúde na família tive que adiar a minha ida. Estou ansioso para rever meus parentes e amigos.