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Entre o riso e a arte

Escritor e critico de arte natalense escreve sobre o seu viver carioca e descreve a distonia que há entre os políticos locais e a realidade mais crua, entre a satisfação de uma casta que não pensa no dia de amanhã e de uma horda de miseráveis que vive sorrindo das própria dor.

*Geraldo Edson de Andrade

Não sei não, mas cada vez mais fico preocupado, como todo carioca, com os nossos políticos, principalmente por que eles não param de sorrir. Parece piada, mas não é.

Vejam o nosso Estado do Rio. Com tanto morador de rua, camelôs, vagabundos, malandros, ladrões, ruas esburacadas, sujas, trânsito caótico em Copacabana, evidentemente, qual é a graça?

Eles, os governantes, não estão nem ai, estão sempre sorrindo, abrindo os dentes para uma população, coitada, cujos dentes estão cada vez mais estragados. Obras que a cidade precisa, e muito, nem pensar. Ninguém viu, ninguém vê, pois como o guia maior do país, político gosta mesmo é de viajar pelo mundo. De graça, como diz o ditado popular, até injeção. O resto que se dane. Aliás, quem não se lembra da marchinha de Zé Kéti que dizia assim: “quanto riso, oh! Quanta alegria! Mais de mil palhaços no salão…” É por ai.

Pois estamos nos danando, no bom sentido, claro. E enfrentando a arte enfronhada nos museus, centros culturais e galerias que pululam neste Rio de Janeiro à véspera do Verão. Por exemplo: a obra de Flávio Shiró, que acontece no Centro Cultural Correios, que comemora sua trajetória de 65 anos.

Trata-se de exposição imperdível, não só pela excelência da criação desse artista nipo-brasileiro, como pelo conjunto de desenho e pintura, às vezes abstratas, outras captando figuração de forte conteúdo. Aplausos para Shiró.

Logo nas proximidades do CCC, a mostra intitulada Nova Arte Nova quer impor cerca de 100 obras de artistas que despertaram para a as artes neste século XXI. Tem de tudo: pintura, escultura, desenho, vídeo, instalação, enfim, uma salada no bom termo para que cada visitante observe e tente guardar alguns nomes que, futuramente, poderão estar no pódio das celebridades. Nem sempre a gente acerta. Vide aquele monte de artistas que participaram da mega exposição “Como vai você, Geração 80?” Poucos sobreviveram.

Arte é assim mesmo. Nem sempre as apostas acertam. E por ser arte, e ter mercado específico, o chamado colecionador erra quando é orientado por algum expert demasiado comprometido com os modismos do momento.

Nenhum crítico é futurólogo e nem a arte fundamenta-se em gosto pessoal. O melhor e mais aguçado crítico de arte é o tempo. Com a vantagem de não ser pretensioso nem arrogante. Alguém duvida?

Consola saber que os governantes, depois de enriquecerem, passam, mas a arte continua desafiando o tempo com a magia de sua criação. Vamos a ela. Ajuda a atravessar a crise. Ou a marola?