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Entrevista interrompida com o artista Carlos José

Um dos mais importantes artistas de sua geração, que se fez conhecido por sua cerâmica decorativa, interrompido pela doença, intentei entrevista-lo certa noite, mas, por um motivo de que não me lembro, ficamos de dar-lhe continuidade um outro dia, o que não aconteceu. Publico aqui o que foi produzido.

*Franklin Jorge

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Carlos José Marques Carvalho nasceu em Bom Jesus.

A casa grande da minha infância com a sua cumeeira alta e portas largas, açoitadas constantemente por ventos fortes e, ao meio dia, na rua o redemoinho levantava a poeira agitava os animais, mudava a paisagem e eu amava. Ao lado da casa tínhamos um “cercadinho” onde plantávamos no inverno, beneditas e girassóis como admirava esse milagre: a semente que gerava a flor. Mais à frente tínhamos um sítio de cajueiros onde cedo descobri a beleza e o valor do caju: agridoces, sumarentos, vermelhos e amarelos. Que saudade!

No nosso quintal tínhamos uma parreira e um umbuzeiro, únicos nesse espaço árido de pouca chuva. A chuva era  uma festa com banhos maravilhosos protegidos pelo conhaque… As novenas de maio, os hinos à Maria, o cheiro das velas queimando, acesas, e os anjos, com suas roupas de cetim que inveja! Por que não?… Por que menino, não?

Nas férias de junho viajávamos para Nísia Floresta, o Porto, outro mundo com a sua vegetação verde muitas flores coloridas, frutas e muita água. Era a Terra Prometida. A arte sempre foi um alimento vital e necessário: eu não teria sobrevivido sem a pintura e, ou, o cinema. Sou um suicida em potencial salvo pela FÉ e pela ARTE… Volto sempre a Bom Jesus em sonho ou MEMÓRIA…

Natal era a véspera, quando se preparava para a viagem de […] quilômetros, ou léguas, como ainda se dizia em Bom Jesus em seu tempo de menino. Um nome cheio de sortilégios que o fazia sonhar com a cidade multitudinária e repleta de atrativos, como uma espécie de Bagdad aos pés do Atlântico.

Carlos José recorda as tarefas que realizava com o coração disparado: engraxar os sapatos, arrumar as malas, enfim, os preparativos da viagem, a recomendação de dormir cedo para acordar cedo com os galos cantando…  Depois a ponte de ferro de Igapó, assustadora, o barulho dos carros nas ruas, o picolé da sorveteria do Sr. Aracati, cartola, pipocas, drops, sonho de valsa… O caís do Porto com seus navios fantásticos e a água parada escura… O convento de Santo Antônio com sua cúpula brilhante com o galo no alto, o belo teto pintado e o som mágico da música sacra… A Escola Doméstica da Ribeira  e as peças de Chico Santeiro: carro de boi, rendeira, Fabião das Queimadas e outras que décadas depois conversaria
com D. Noilde Ramalho sobre esse alumbramento.

Conheci Glorinha Oliveira cantando com seus vestidos de Organdi branco… Depois era comprar uma nova camisa de Jersey e voltar com uma saudade no peito… E pintar com uma tia pintora que foi morar em nossa casa, aos 15 anos, quando nasci. Foi a minha primeira Mãe, mãe postiça. Com ela aprendi a usar as cores e a  amar o cheiro do óleo e da terebintina .