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Era uma vez um livro…

Crônica de estreia do autor de Actas Diurnas aborda o nascimento de um livro que lhe foi solicitado pelo governador Aluzio Alves em festa que oferecia aos seus amigos o Cönsul do Libano em Natal, Raschid Hassan Laud, antes de viajar para sua terra de origem, e que nunca, como ocorre em situações semelhantes envolvendo políticos profissionais, saiu do papel.

*Luis da Câmara Cascudo

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Em julho deste 1965, Raschid Hassab Laud, cônsul do Libano, oferecia uma linda festa aos amigos, despedindo-se para sua visita a sua terra natal.

Na hora dos aperitivos, o governador Aluízio Alves senta-se junto a mim e pergunta-me, com a maior naturalidade serena, porque não publico um volume com algumas Actas Diurnas. Vendo-me sorrir, informa que o governo faria a edição, de 150 crônicas, escolhidas pelo autor, solicitando que envie os originais quanto antes, para ele. Antes do indispensável agradecimento, desaparece, indo semear outros assombros noutros grupos.

Escolhi 150 crônicas, publicadas em A República, e o Dr. Enélio Lima Petrovich, Presidente do Instituto Histórico e Geográfico, deu forma aos recortes, divulgados com a data da publicação, ressalvando a identidade da notícia para a época em que fora escrita. Não há, como vedem, atualização. Sejam como são ou não sejam, como decidia o Padre Ricci, geral dos Jesuítas.

E um documentário de figuras e fatos do Rio Grande do Norte. Prata da casa.

Desde 1938 mantive na A República, e durante seus colapsos, no Diário de Natal, uma seção denominada Acta Diurna, revivendo, com pesquisas teimosas nos arquivos, confidencia de informações familiares, episódios e nomes que tinham tido sua hora e notoriedade local. Algumas dessas Actas Diurnas revelavam, pela primeira vez, datas, o fato na sua veracidade, o ambiente na legitimação funcional. Raros, bem poucos, avaliariam o trabalho obstinado, meses e meses, para um pequeno resultado, passando sem a atenção na rapidez da leitura.

Era uma maneira de servir a minha terra e a minha gente, restituindo-lhes a vivência dos acontecimentos e das vidas dignas de memoria.

Aqueles assuntos não mereciam alheios cuidados maiores porque não fixavam valores altos, prestigiosos, capazes de retribuição em simpatia. Meus temas foram outros, tranquilos, distantes, imóveis na morte, alguns esquecidos na velocidade do tempo implacável. De Minimis Non Curat Praetor. Como não fui Praetor, cuidei das das questões mínimas, quase voando na paisagem domestica.

Um livro com tais objetivos não interessaria editor algum.  O governador Aluízio Alves promovendo a edição consegue que as Velhas Figuras conterrâneas voltem aos nossos olhos, libertas da lei do Olvido.

E, como dizia Machado de Assis, e o que vai entender, lendo…

Cidade do Natal, novembro de 1965.

PUBLICAÇÃO  AUTORIZADA LUDOVICUS – INSTITUTO CÂMARA CASCUDO.