*Francisco de Vasconcellos
Diziam os latinos: naturalia non sunt turpia, ou seja: as coisas naturais não são feias.
Foram as convenções sociais ditadas pela cultura de cada povo que atribuíram a certas manifestações da natureza humana um caráter prosaico, desagradável e até mesmo repelente.
Consoante essa maneira de pensar e de sentir os ruídos produzidos pelo organismo tais como arroto, soluço, tosse, espirro, ronco, bufa, somente podem ser consideradas coisas feias por aqueles que não as veem como exteriorizações naturais.
Ficou nos anais da criatividade bem-humorada dos cariocas a piada que circulou nos anos cinquenta dos novecentos, que assim fora concebida: um casal de portugueses, Manoel e Maria fartou-se num banquete oferecido a um figurão da época. O Manoel, de pança cheia, soltou um arroto retumbante. A Maria, tentando minimizar o constrangimento perguntou ao marido: – Soluças-te, Manoel? E ele, sem pestanejar, respondeu: – Não, arrotei.
Os alemães costumam dizer que a bufa altissonante não fede: Fedorenta é aquela que sai de fininho, silenciosa, aquela que esquenta as beiras do ânus, como dizia o falecido Abranches, que se considerava o rei dos gases.
Nessa esteira, o poeta baiano o sargento Nascimento concebeu os versos que seguem abaixo:
Não importa se é bufa
pum, traque ou ventinho
o perigoso está no cheiro
quando ele sai caladinho.
Nesse contexto, entre jocoso e escatológico, cabe uma pergunta que merece reflexão: – será que os gases lançados diariamente na atmosfera por essa população absurda do planeta, contribui para o aumento do efeito estufa? Que se manifestem os técnicos no assunto