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“Escritos em meio ao fogo”, de Durval Muniz

Um curioso livro de artigos políticos, alguns de fato radicalmente partidários, que, se levado ao pé da letra, pode ser considerado antidemocrático, nos dias de hoje.

*Alexsandro Alves

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Me permitirei nessa seção de Crítica literária potiguar desse domingo, duas digressões.

É para o livro Escritos em meio ao fogo, do escritor Durval Muniz de Albuquerque Junior.

Digressão porque o livro foi publicado na Paraíba, embora formado por artigos que foram publicados no Saiba Mais, aquele site “independente” que apoia o governo petista de Fátima Bezerra em suas páginas.

E uma segunda digressão, ainda, é por conta do seu conteúdo, até onde li, são artigos de cunho político, embora que em seus parágrafos desfilem nomes do porte de um Marcel Proust ou Machado de Assis, acompanhados por Walter Benjamin, Rousseau, Montesquieu, Norbert Elias e tantos outros nomes de peso da literatura e das ciências humanas.

Eu não julgarei esse livro por conta de seu destacado posicionamento político petista, nem digo de esquerda, e ainda poderia afunilar ainda mais: lulista. Não o farei pois a consciência moral de cada um é de cada um.

O que se precisa estar em jogo quando se escreve um livro é: o indivíduo tem condições de escrevê-lo? Em outras palavras, o livro é bem escrito?

O senhor Durval Muniz indubitavelmente escreve muito bem. Sua escrita não é cansativa, ele sabe encadear ideais e escreve seus parágrafos, muitas vezes agradabilíssimos, com muita segurança. É um livro bem escrito. Não tropeça nessa segurança nem mesmo diante de sua mais aguerrida paixão: o presidente Lula.

Aliás, quando fala no presidente, parece que chispas de certeza explodem de sua fogueira. Nada contra, nada contra. Como todas as paixões, a paixão política também é um mal desculpável e nós precisamos nos inflamar de paixões fortes para viver – é nosso saudável alcoolismo…

Eu também tenho minhas paixões literárias, musicais, filosóficas e também, minhas paixões políticas.

Porém, o que me chama a atenção nesses artigos é seu, digamos, background histórico. Mais precisamente, aliás, a nomenclatura que o autor usa para delimitar esse contexto: pós-golpe de Estado de 2016.

O golpe de Estado é o impeachment da presidente Dilma.

Pode isso, Arnaldo?

Se levarmos até às últimas consequências a ideia de golpe de Estado, esbarramos em um Supremo Tribunal Federal golpista. Golpe esse na figura do ministro Alexandre de Moraes, exatamente a figura que vem tornando possível o terceiro mandato do atual presidente.

Não é peculiar esse nosso país?

Eu lembro que sites como o Brasil 247, Diário do Centro do Mundo, sites alinhados politicamente com o Saiba Mais, noticiavam que a escolha de Moraes para o STF não tinha qualquer validade, pois exatamente fruto de um golpe. Esse golpe que Muniz denuncia em seu livro.

Será que Muniz concorda com sua tese de golpe até às últimas consequências? Ou só até certo ponto? Sobretudo nos dias de hoje, é preciso tomar cuidado com o que se escreve – ou seja, com o que se pensa.

É uma pergunta interessante e que deve ser feita, porque é o tipo de pergunta que produz aquela comichão nos ouvidos. Incomoda. Perguntas assim é que são boas de serem feitas, porque incomodam. É como se estivéssemos sentados e um frivião passeasse por nossas nádegas. Incomoda mesmo.

Enfim, se foi golpe o ocorrido com a presidente Dilma, vivemos hoje em um Brasil golpista.

O Brasil de Temer é golpista. O Brasil de Bolsonaro é golpista. O Brasil de Lula III é golpista.

E o STF de Alexandre de Moraes é golpista: fruto direto do golpe de Estado de 2016.

A não ser que retrocedamos ao cristianismo! Sim, eis uma solução!

O sofrimento de Lula na cadeia nos livra de todo o golpe!

FICHA TÉCNICA:

Albuquerque Junior, Durval Muniz de. Escritos em meio ao fogo: reflexões, intuições e aflições em torno do golpe de Estado de 2016 e da ascensão de Jair Bolsonaro ao poder. Campina Grande/PB: EDUEPB, 2023. 304 pp; 1,3 MB.

Obs.: li a versão digital através de uma postagem em um grupo de Whatsapp.