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Esperando a morte chegar

Colaboradora de Navegos, jornalista, pedagoga e filósofa, medita sobre o mais filosófico dos temas, que já foi assunto de grandes filósofos, escritores, músicos, pintores e que, ao mesmo tempo, também é assunto na boca do mais simples de qualquer comunidade. Tema esse que nunca será resolvido, porque quem o desvenda, finda: a Morte.

*Nadja Lira

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Vejo com grande preocupação, que uma boa parte dos meus contemporâneos estão indo embora para a eternidade. Pelo andar da carruagem, eu estou na fila, e não posso deixar de reconhecer que todo ser vivente tem um prazo de validade. Logo, cedo ou tarde, tanto eu quanto cada ser humano deveremos partir e prestar contas a Deus, por nossos atos e atitudes praticados aqui na Terra. Quanto à esta realidade, nada há que se possa fazer. Quando chega a hora da partida, ninguém pode se furtar ao chamado.

De acordo com as Escrituras Sagradas, Deus criou o ser humano para que este tivesse vida eterna. Graças ao pecado praticado por Adão e Eva esta realidade foi modificada e assim, nossa permanência na Terra passou a ter data limitada. Eterno, infinito e ilimitado somente Deus – o criador e o dono de tudo. Inclusive de nossas vidas.

Pensando na possibilidade de termos vida eterna, eu fiquei imaginando o quanto tal contingência seria difícil para o ser humano. Viver eternamente como os seres mitológicos, não deve ser nada fácil. Uma Sereia, por exemplo, vive para ver várias gerações nascerem, crescerem e morrerem, enquanto elas permanecem vivas, jovens e belas. Imagino quanta solidão devem encarar, vendo seus entes queridos morrer diante de si, sem que nada possa ser feito.

A imortalidade para um ser humano, portanto, deve ser algo torturante. Não combina de jeito nenhum.

A mitologia grega conta que Titônio foi um dos 10 homens mais bonitos que a humanidade já viu. Eos se apaixonou por ele e pediu a Zeus que lhe desse a vida eterna. Ela, porém, esqueceu de pedir também a juventude eterna para ele. Assim, Titônio viveu tanto e envelheceu tanto, que ela acabou por trancá-lo num quarto, onde ele se transformou em uma cigarra.

O que separa os humanos dos deuses é justamente a imortalidade. Os deuses, no Olimpo, se alimentavam de Ambrosia – um alimento que tinha a função de preservar sua imortalidade. Este alimento era vetado aos humanos. Se eventualmente, um deus do Olimpo ofe

A mitologia grega ainda conta, que Sísifo tentou enganar a Zeus e assim prendeu Thanatos – a deusa da morte, para que ninguém mais morresse. Quando descobriu a proeza, Zeus o condenou à tarefa de rolar uma pedra todos os dias, para o alto de uma colina. À noite, Zeus rolava a pedra colina abaixo, de forma que o trabalho de Sísifo nunca tem fim.

A Fênix é um pássaro retratado na mitologia grega, que após sua morte entra em autocombustão e depois de algum tempo ressurge das próprias cinzas. Outra característica da Fênix é o fato de poder voar carregando cargas pesadas e seu poder de se transformar em uma ave de fogo. A longa vida da Fênix e a sua capacidade de renascimento das próprias cinzas transformaram-na em símbolo da imortalidade e do renascimento espiritual.

De acordo com a saga exibida nos filmes Fúria de Titãs, os deuses do Olimpo acabaram por sucumbir, perdendo sua imortalidade, porque os humanos deixaram de acreditar e orar por eles. Era justamente a oração dos humanos, o que dava força, poder e imortalidade aos deuses. Sem as orações eles acabaram sendo transformados em pó. Segundo a Bíblia, somos pó e ao pó retornaremos. Logo, todo ser humano está fadado à morte.

Para os Católicos existe o conforto de que, após a vida, cada ser viverá eternamente, na Glória Celestial. Todos seremos agraciados com uma vida plena, onde não haverá mais dores, angústias ou sofrimentos de qualquer natureza. É o prêmio que Deus dará a cada filho que tiver respeitado suas leis, enquanto viveu no mundo sensível. Logo, a possibilidade da morte não parece tão assustadora. Porém, não quero ficar sentada de maneira confortável esperando a morte chegar.