*Franklin Jorge
Dizia-me e redizia-se Dona Gena, algumas vezes, ao observar-me enquanto falava em sua seleta e sortida biblioteca, que via em mim ou no meu visionarismo ainda moço, laivos e raios do jornalista e político Carlos Lacerda e de seu velho Mestre João Lins Caldas, autor e personagem que aumenta no curso do Tempo.
De Caldas, ressaltava o que chamava de ‘’convicção do Talento’’ que subsistiria sem paga e sem reconhecimento. Seu Caldas, como o referia, ainda muito jovem teria dito diante da mesa de jantar: Meu Pai, Eu sou um Gênio’’… E, do ex-governador do Rio de Janeiro, a luta por suas ideias, a juventude e o entusiasmo generoso e inconformista.
Fiquei a princípio um tanto sem graça com esses comparativos generosos e despropositados que me fazia rechaça-los sem muita convicção, enquanto desfrutava o prazer de ver-me entre dois visionários: um filósofo e um homem de ação.
Gostava de ouvi-la sobre suas conversações que duravam horas e dias, nos alpendres da Fazenda Picada, onde viveu naqueles anos de 1940 e 1950. Sentia-se desterrada, ali, à beira da lagoa da Ponta Grande. Seus pensamentos, como tenazes de ferro a comprimir-lhe as têmporas. Dona Gena sentia alívio pela conversa com Seu Caldas.
Era homem íntegro e, como grande poeta, tinha o zangador perto. Arreliava-se por dá cá aquela palha. Quando alguma coisa o desagradava em uma figura pública, presidente, governador, jornalista, mandava-lhe um telegrama indignado. Não sabíamos se obtinha resposta…