*Nadja Lira
O mundo vive em constante mudança e isto provoca um grande impacto na vida social. É engraçado e às vezes assustador imaginar, que as pessoas nascidas na década de 90 não conhecem uma máquina de datilografia, assim como uma boa parte delas jamais viu um disco de vinil, vai saber o que é uma fita cassete Basf, ou tampouco um toca-fitas auto reverso. Fazer feira em supermercados ou pela internet são algumas das modernidades que facilitam a vida de todos no mundo atual. Mas isto pertence à Geração Nutela.
Os jovens da atualidade, sempre tão apressados em tudo, jamais irão experimentar a emoção de esperar pelo carteiro, que trará ou não, a carta do namorado ansiosamente esperada. Afinal, hoje tudo é rápido, fortuito, líquido e realizado em tempo real. As mensagens são repassadas num piscar de olhos, pelo WhatsApp. Os smartphones são utilizados para qualquer tipo de conversa. Até mesmo para dar um “fora” do namorado, sem precisar olhá-lo nos olhos.
Não consigo imaginar como a minha geração sobreviveu tão bem, ao viajar com uma câmera fotográfica, cujo filme de 36 poses era suficiente para todos os registros da viagem. As máquinas fotográficas, aliás, estão aposentadas. Foram substituídas pelos aparelhos celulares, que além de fazer e receber chamadas, também funcionam como câmeras, gravadores, tradutores e filmadoras, entre outras funções.
Sou filha da Geração de Ferro – grupo de pessoas formadas pelos meus bisavôs, avôs, pais e tios, que me deixaram como legado alicerces fincados no amor à família, respeito ao trabalho, à honra e à honestidade. A Geração de Ferro cumpriu sua missão de educar os filhos, mesmo com dificuldade, mas ensinando o valor das coisas ao invés de preços.
Mas se alguém imaginar que estas mudanças dizem respeito apenas à vida e à tecnologia, está redondamente enganado. As leis mudam diariamente, dependendo de quem tem o poder de interpretá-las e de quem vai ser julgado por estes “donos do poder”.
A Constituição Federal do Brasil, por exemplo, afirma em seu Artigo 5º que ‘Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade’.
O que se vê, porém, é que alguns são menos iguais do que outros. No país da atualidade, é considerado crime um presidente se reunir com embaixadores. Mas com ditadores é permitido. Um pode ser retirado da cadeia para se tornar presidente, mas se alguém falar sobre isto pode perder um pedaço da língua.
Grupo armados com facões, machados e foices podem invadir propriedades privadas, destruir plantações e matar animais impunemente, sem que tal prática seja considerada um ato terrorista. Porém, mulheres, crianças e pessoas idosas portando uma Bíblia, orando e ostentando uma bandeira verde e amarela são considerados terroristas perigosos e prontos para dar um golpe na soberania do país. Enquanto a Constituição, no seu parágrafo IV assegura: ‘É livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato’.
Uma governanta sofreu impeachment em 2016 pela edição de três decretos de créditos suplementares sem a devida autorização do Poder Legislativo (pedaladas fiscais), mas por sua proximidade com os Homens de Preto, não teve seus direitos políticos cassados. O outro fica inelegível por oito anos por ter a boca grande e falar sobre assuntos proibidos.
Enquanto um afirma que sente orgulho de ser chamado de “comunista” e que quer regulamentar os meios de comunicação, o outro é quem recebe o apelido de “fascista”, “nazista”, “racista”, “taxista”, “sexista”, e tudo o mais que for “ista”.
Portanto, vejo com bastante apreensão o futuro desta juventude, uma vez que a Imprensa já divulga, que não será permitido deixar herança para os filhos. Boa parte da Geração de Cristal não quer estudar ou trabalhar, assim como não aprendeu a conviver com as decepções. Vai ter que aprender a se virar em um Brasil profundamente modificado.