*Alexsandro Alves
Desde que a governadora decretou que o pastel de Tangará é patrimônio cultural potiguar, que cada vez mais se observam estabelecimentos comerciais da iguaria em Natal.
Parece até que foi algo combinado. E eu fico até temeroso, mas não quero falar disso.
A questão é: eu até que gosto do pastel. Pequenininho, gostoso, servido com Coca-Cola, esse patrimônio industrial da humanidade.
Acontece que na Estrada de Ponta Negra há um boteco desses e eu sempre, quando passo nas proximidades, vou lá comer um pastel, na verdade, sempre mais de um.
Eu gosto do de queijo coalho (nordestino) com cream cheese (americano): a saúde de nossa gente com a seboseira de uma receita importada, mas já fabricada por nossa indústria! E descendo com refrigerante, você fica assim, cheio de borbulhinhas, com um pé lá e outro cá, misturando cultura autêntica com a fábrica.
Também gosto do de frango com Catupiry.
Então, quando estou lá, peço estes dois sabores. Na primeira vez em que pedi o de frango com Catupiry, perguntei se era o autêntico Catupiry ou se se tratava mesmo de um daqueles não-sei-o-quê com amido, que mais parecem esperma, e a vendedora me garantiu ser o legítimo.
E era mesmo.
Porém ontem, ao provar o frango com Catupiry, deparei-me com algo branco, viscoso e com odor ruim.
Não era Catupiry, não.
Quando fui pagar, relatei que o requeijão não era Catupiry e expliquei para a vendedora as características de cor, textura e sabor que ele tem mas que o requeijão daqueles pastéis não possuía.
E foi aí que eu fiquei sabendo que o nosso patrimônio cultural nem mesmo é produzido, digamos, artesanalmente.
“Nós já recebemos assim.”
E eu pensava que eram feitos lá mesmo, seguindo uma receita popular de gerações, passadas até por via oral e todas essas coisas da cultura popular.
Mas não é.
Estranhamente, esse produto cultural é bem industrializado. Claro que com Catupiry incluso isso estava na cara, mas ainda havia algum espaço para um artesanato no preparo, pensava.
Então, o que é esse pastel de Tangará? Será que só têm o nome mas o produto em si em nada é aquele tornado patrimônio pelo Estado?
Ou será que já tornaram patrimônio como uma espécie de propaganda?
De qualquer forma, a qualidade desse pastel decaiu.