*Franklin Jorge
Esses dias o leitor há de ter observado que me atrapalhei algumas vezes, na gramatica, na grafia – sobretudo no estilo -, nas datas. Na simples grafia da crônica, advém o baixo-astral. Sentimo-nos impotentes. No entanto, escrevemos. Pois escrever é meu destino. Vá e escreva, preconizou Villaça. Fui e escrevi. Já agora no fim da linha que emoldura a existência, continuo a escrever e a ser útil. Escrevendo.
A idade dos nomes, a parte factual de minhas memorias de menino rural. ‘’Uma obra da predileção do autor, ‘’por conter ainda muito da memoria dos que o viram menino por essas várzeas e tabuleiros do Assu’’, ou, para engrandece-la, Jorge Antõnio a chamou de ‘’mesopotamia potiguar’’, por suas terras fertilíssimas, semelhantes as que margeiam o Nilo, dizia-lhe o avo. São terras que não podem sair das mãos da nossa família… Há petróleo aqui…Sao terras ricas e dadivosas.
Essas terras que pertenceram a seus avos, vendida por seus pais, foram resgatadas por seus filhos.
Talvez esse texto não se enquadre em nenhuma rubrica. Aqui estou porque escrevi sobre o menino rural que fui no Estevão. Sob a ótica de Jorge Antonio, que aqui viveu, dos primeiros Moura desbravadores, havia entre eles um desse nome, como viria a ter de novo, Estevão Moura, um dos últimos proprietários rurais remanescentes do século passado. Por muitos anos conservou sua montaria impecavelmente tradada.
A casa, hoje, desfigurada, pertence a Monsanto. Era o coração pulsante daquelas terras, um bem hereditário. Uma terra que nos sustentava a todos há gerações. A pátria afetiva em busca de expressão. Sob a forma de palavras; de palavras escritas em estilo de homem. A empresa ocupou toda terra com bananais. A casa é agora um depósito de tralhas da empresa, pneus, pneus gastos, ferramentas, de peças de resposição. De ações emergenciais.
Um lugar minimamente cuidado. Mas não de todo sujo. Foi a primeira vista a impressão que tive, ao olhar em volta, porém tudo se foi adensando. Ficando mais espesso e mais denso. Mais denso e espesso.
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