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Um estilista gaúcho

Um dos grandes escritores de sua geração, destaca-se Nelson Hoffmann em diversos gêneros, sobretudo na ficção e no ensaísmo, como o criador de um estilo personalíssimo.

*Franklin Jorge

Historiador, cronista, romancista, poeta, crítico literário de grande perspicácia e sensibilidade, Nelson Hoffmann afirma em seus escritos que o estilo é a obra. Leitor generoso, tudo nele transpira novidade e inteligência, condições necessárias para que o texto seja eficaz. Após a leitura de “Quem matou Maria?” – incursão do autor pelo gênero policial –, que me absorveu de tal forma que só o larguei quando virei a última página, eis que ele me envia agora Terra de Nheçu, que li entre um cafezinho e outro, sentado em um dos shoppings da cidade, enquanto esperava alguns amigos para o almoço.

Embora conciso, Hoffmann faz-se inesquecível a um tempo pela cultura e pelo estilo, que é afinal a sua assinatura de autor capaz de transcender a circunstância, para gestar uma obra que abusa dos gêneros e nos dá, em sua cativante inteireza, um estilista autêntico. Creio que um dos últimos a escrever, nessa época irrisória e medonha, dominada pelo diabo da mediocridade, uma obra com que sonha todo criador arguto e ambicioso de glória e reconhecimento.

Terra de Nheçu [Ediuri, Santo Ângelo, 2006] é o seu título mais recente. Reúne artigos publicados no jornal Igaçaba, sob o mesmo tema: a conquista e povoamento do território que compreende Missiones, na Argentina, e Missões, no lado brasileiro da fronteira, onde vive o autor, em São Roque – RS, interessado na pesquisa e no estudo da figura do padre jesuíta que deu nome ao seu município e do chefe indígena ao qual essas terras antes pertenceram. A prova de que um tema local pode inspirar uma obra de interesse universal.

Professor aposentado, vivendo em São Roque, numa pequena cidade da fronteira do Rio Grande do Sul com a Argentina, Nelson Hoffmann é um autor, praticamente desconhecido ou cultuado apenas por um seleto grupo de leitores, e um historiador sagaz, ao contar e interpretar a crônica de sua cidade que surgiu do martírio de um missionário jesuíta que ali viveu e foi martirizado, quando a terra que tanto ama era apenas um grande deserto habitado por guerreiros e chefes guarani.

Feiticeiro das letras, escreve Nelson Hoffmann sem pedir nada emprestado a ninguém, num estilo que é absolutamente seu, seja pela maneira como escolhe e ordena as palavras, seja como expõe suas ideias e as observações que faz acerca dos livros que lê com essa espécie de encantamento que se revela contagioso e digno do nosso reconhecimento de leitores muito gratos pelo deleite de conhecimento que nos proporciona.

Síntese da acuidade, sensibilidade e cultura do autor, Esse Mundo é Pequeno, é o livro pelo qual o conheci como escritor e a chave do meu interesse por sua obra que, por suas peculiaridades, podemos afirmar que é única, especialmente numa época em que tudo se faz sem exigência de qualidade, de maneira apressada e fácil. Ele, não.

Reunião de um pouco do muito que escreveu sobre outros autores, em sua maioria ilustres desconhecidos com os quais desejamos imediatamente travar relações, pois ao apresentá-los ao leitor Hoffmann o faz de uma tal maneira que nos desperta imediatamente a curiosidade e a vontade de fazermo-nos, também, seus leitores e propagandistas, pois o que é bom e excelente é para ser lido e socializado com os demais.