• search
  • Entrar — Criar Conta

Eu Era Um Homem Com Poderes Animais (1 de 3)

Alexsandro Alves, escritor e professor, escreve sobre uma de suas paixões: os personagens na DC Comics, editora de quadrinhos estadunidense. Nesse caso, as histórias do Homem-Animal, escritas por Grant Morrison.

*Alexsandro Alves

 

[email protected]

 

Há personagens que nascem grandes e há personagens com potência de serem grandes. Não há personagem ruins, há péssimos escritores.

Em setembro de 1965, na revista Strange Advetures #180, Dave Wood e Carmine Infantino apresentaram ao mundo um desses personagens despretensiosos, Buddy Baker, o Homem-Animal. Ele ganhou seus poderes quando entrou em contato com a radiação extraterrestre de um OVNI. A partir daí, ganha a habilidade de absorver qualquer capacidade de qualquer animal que estiver próximo. Nesse artigo me concentro em duas características centrais de Morrison em Animal Man, uma formal e outra de conteúdo: a metalinguagem e a melancolia, respectivamente.

Quando Morrison passou a escrever Animal Man, a partir da primeira edição, permanecendo no título até a edição 26, ele causou um verdadeiro reboliço no meio editorial. Tudo bem, quadrinhos de super-heróis adultos já não eram tanta novidade assim, convenhamos, Alan Moore já esbanjava sua poesia em Monstro do Pântano, sua força política já havia sido sentida como um terremoto avassalador em V e acima de tudo em Watchmen, Frank Miller carregava de violência urbana o seu Demolidor, a sua Elektra e o seu Batman, e Neil Gaiman iniciava o sono dos justos com seu feérico Sandman. Sem falar nos romances gráficos e autobiográficos de Will Eisner.

Mas o título de Morrison mostrava amplas novidades. Tanto de conteúdo quanto de forma. No que diz respeito à forma, Morrison rasga a linha que separa o personagem do leitor, em outras palavras, ele faz com que o Homem-Animal entre no nosso mundo e converse com seu autor.

E o conteúdo das histórias de Morrison também são diferentes dos mostrados por Moore ou Miller. Nesse aspecto, esse Homem-Animal pode ser mais aparentado com Gaiman e Eisner. Há uma melancolia que perpassa toda a saga de Buddy Baker sob a égide de Morrison. Essa melancolia ganha contornos muitas vezes sutis e até mesmo cômicos, diferentes da melancolia realista de Moore. Aliás, por falar em realismo, Morrison parece caminhar em outra estrada daquela de Moore. Este coloca os super-heróis tal como seria se vivessem no nosso mundo; Morrison, ao contrário, diz claramente, há o meu mundo (do escritor) e o seu mundo (dos personagens). Isso torna as histórias elegantemente melancólicas. Lembro “A morte do Máscara Rubra”, (EUA, DC, Animal Man #7, 1988; BR, Ed. Abril, DC 2000 #13, 1991). Ele deseja voar como um super-herói e salta do alto de um edifício. Por momentos permanece no ar, como que pairando. Sentimos que há algo errado. A força da narrativa de Morrison nos empurra para que não aceitemos aquilo que parece ser a vontade de nossa alma, que esse personagem realize seu sonho de voar. Na página seguinte, uma mancha de tinta vermelha anuncia o ocorrido.

Capa de Animal Man #7. 1988.

 

Capa de Animal Man #1, de 1988

 

Grant Morrison.

Continua.