*Alexsandro Alves
A melancolia da solidão da família também é registrada. Na história “Aves de rapina”, (EUA, DC, Animal Man #6, 1988; BR, Ed. Abril, DC 2000 #11, 1990), que faz parte da mega saga “Invasão!”, Morrison nos fala, enquanto Buddy tenta desarmar uma bomba thanagariana, de um soldado infeliz do exército de Thanagar. É uma narrativa dupla: de um lado, as tentativas de Buddy para desarmar a bomba, do outro, a história do triste soldado alienígena.
Em Thanagar há um rito de passagem onde os homens devem mostrar, através de uma escultura, suas aptidões e assim determinar o seu futuro. Este soldado em questão, quando cumpriu esse rito, esculpiu uma obra de arte bastante pessoal, o que desagradou seu pai. Pois este esperava que o filho esculpisse uma cena militar, de guerra, de bravura mesmo. Mas o rapaz prefere falar dos problemas da alma e não dos problemas patrióticos. A cena que mostra o rapaz levando uma bronca do pai, que se sente envergonhado, pois o filho está dizendo que quer ser um artista e não um militar, é comovedora. Simplesmente o rapaz thanagariano coloca mão no coração, surpreso e amedrontado, pelos gritos de ódio do pai. Há uma certa relação com a história de muitas “ovelhas negras” da família aqui e do próprio Morrison – as grandes histórias sempre são autobiográficas. Não sei se Morrison sofreu ou não alguma pressão familiar nesse sentido, mas que percebemos a opinião de Morrison sobre o assunto é inegável. Mesmo assim, o resultado atua contra o jovem artista. O pai pede uma segunda avaliação para o jovem e nessa segunda vez ele agrada o pai com uma escultura militarista.
Outro ponto interessante é o distanciamento de Morrison em relação ao que estava ocorrendo na DC; na época dessa história a editora publicava “Invasão!” um megaevento que reunia todo o UDC e tratava da união de várias raças alienígenas para destruir a Terra. Morrison não deixa de circunscrever seu título dentro dessa saga, mas permite um distanciamento. Nesse crossover o tema da invasão é deixado de lado em favor da história do militar thanagariano..
Outra melancolia que permeia essas histórias, e aí temos o ponto mais emocionante, mais verdadeiro, mais belo e poético e o mais triste também, é a melancolia da existência animal. Ao longo das histórias, somos apresentados à macacos vítimas de experimentos científicos, às matanças violentas e cruéis de golfinhos, à envenenamentos de gatos e até mesmo à uma conversa em que um coiote de desenho animado resolve abandonar de vez o mundo desumano em que vive.