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Ficção Científica no Brasil

Colaborador de Navegos de primeira hora volta a escrever em nossas páginas abordando um tema que tem passado despercebido por muitos amantes das Histórias em Quadrinhos.

*Renato de Medeiros Jota

Observando as publicações de HQs de Ficção Cientifica no Brasil notamos a grande influencia do tema no gosto do leitor brasileiro. Os motivos são muitos, só para citar alguns podemos mostrar o leque de tema que podemos encontrar em suas páginas como conflito político, investigação, guerras espaciais, mundos distópicos, sociedades secretas, cidades decadentes, e histórias envolvendo o terror como tema. O que levou o leitor brasileiro a gostar de HQs de Ficção cientifica se a literatura desse gênero sofre com o seu desdém? É uma questão a ser investigada e aqui me proponho a fazer uma, breve analise sobre isso.

O que condiciona o gosto de um leitor é um mistério, principalmente no Brasil, onde a leitura é praticamente um ato de resistência e luta eterna contra o desestímulo constante instituída pelas autoridades na sociedade. Entretanto, consideremos que os quadrinhos nada mais é do que esse ato subversivo de “resistir” a resiliência cômoda de resistir a formação de público leitor, onde o quadrinho passou a ser um fator contrário a essa atitude meramente passiva de desestímulo.

Obviamente o atrativo dos quadrinhos é sua capacidade de atrair através do grafismo das figuras e suas cores monocromáticas que atraem a atenção primeiro e depois prende a atenção dos jovens leitores através de histórias que primam pelo exagero imaginativo e capacidade de produzir aventuras atrativas ao gosto dos fãs das HQs. Onde, então surge o gosto para a Ficção cientifica nos quadrinhos? Considerando que no passado, o Brasil não desenvolvia tecnologia, mesmo sendo um país industrializado, isso foi um empecilho ou um dos empecilhos para que a FC não se desenvolvesse e participasse do gosto do leitor. Já no quadrinho, foi o inverso, desde o começo a ficção cientifica foi aceita e abraçada com todo ardor pelo leitor brasileiro. Desde Flash Gordon, Buck Rogers até Marvel e DC os quadrinhos de FC se tornaram adorados pelos jovens leitores de nosso país e toda obra nesse gênero lançado tinha público garantido.

Mas a minha intenção aqui é me concentrar nos quadrinhos de Ficção cientifica produzidas inteiramente no Brasil, por roteiristas e ilustradores do país. Semelhante ao gênero terror, os produtores de HQs buscavam utilizar a cultura e folclore brasileiro como foco de suas histórias, com voz própria e inovadora. Isso, a princípio, poderia desestimular o público leitor do que atraí-lo, pelo contrário, a ficção cientifica nacional caiu no gosto do leitor brasileiro e podemos considerar que contribuiu e muito para sedimentar esse gênero entre o gosto do público de HQs. Infelizmente, o mesmo não aconteceu com a literatura, talvez, porque a herança literária do pais esteja centrada em valorizar histórias que evoquem um nacionalismo naturalizado, ao invés de estimular a imaginação com a descoberta de outros mundos, vislumbrando cidades hiper populosas, naves cruzando o vácuo do espaço, em suma, valorizar a ficção especulativa, dita cientifica.

Especificamente no Brasil, na década de oitenta tivemos a HQ chamada 1984 dos autores Deodato pai no roteiro e maravilhosamente ilustradas por Daodato Filho nos desenhos, posteriormente veio Ranthar do próprio Deodato e do magnifico Mozart Couto, Platoon de vários autores, Neuros, Inter quadrinhos e a lista seria imensa se fosse parar só para citar. Todas essas HQs são da década de oitenta. O que se verifica nas páginas dessas HQs de ficção cientifica brasileiras, geralmente produzidas por pequenas editoras independente nos anos oitenta, visavam tornar mais atrativo a FC, recorrendo a temas como sexo, terror, violência, tecnologia nas tramas que se misturavam nas páginas das HQs.

Contudo, observando com o passar das décadas podemos notar que as HQs brasileiras atuais, sofreram mudanças, o que se constata é a centralidade de temas que já não possui o apelo a temas sexualizados e a violência desmedida. O foco passa a ser o conflito externo entre sociedade e individuo, confrontos morais entre eternidade e finitude, tecnologia versus humanismo, percebe-se, então, uma significativa mudança dos novos produtores de HQs nos temas das suas revistas, procurando centralizar mais o aspecto psicológico do que o externo. Nesse sentido, algumas HQs representam muito bem tal postura como Penpengusa, Cidade Asfixiada, Universo Zero, Vishnu entre outras que vem sendo produzidas com essa temática.

Por fim, vale considerar que essa mudança de temática na ficção cientifica não quer dizer que os novos autores abandonaram temas de décadas anteriores, mas o objetivo, agora, reside em explorar novos conceitos e expandir outros temas que fazem parte da cultura e jeito tupiniquim. Fazendo isso, creem que contribuem para produzir algo inovador e diferente do que se tem no mercado, podendo atrair novos leitores com isso. Bem pessoal, terminarei por aqui. Desejo a todos um abraço à distância e se cuidem!