*Marcelo Alves Dias de Souza
Dos romances sobre epidemias, talvez o mais badalado seja “A Peste” (1947), de Albert Camus (1913-1960). O título ajuda bastante, é verdade. É impactante. Mas o conteúdo é também excepcional. Em 1940, substituindo os horrores da 2ª Guerra Mundial, uma peste bubônica devasta a cidade de Oran, na costa argelina. A verdadeira Oran foi outrora tomada por outras pragas, a bubônica e a cólera entre elas, mas a narrativa de Camus supera os fatos. Namora com o absurdo. Romance existencialista, é a crônica de uma luta, a dos habitantes da cidade, subjugados pela natureza humana e pelo destino, contra a doença que se torna cada dia mais assustadora. E, claro, há o prestígio do autor. Camus, argelino, órfão de pai, crescido entre o mar e o sol, resistente francês, diretor da revista Combat, filósofo e ficcionista, prêmio Nobel de literatura em 1957 e falecido muito jovem, em 1960, em um acidente de carro tão absurdo como foi sua própria vida. Tudo isso junto faz de “A peste” um clássico das letras francesa e universal.
De toda sorte, essa veia da literatura – falo de obras de ficção sobre epidemias e pandemias – é pródiga. O assunto, com seu toque mórbido, atrai. E, assim, cada qual com a sua morbidez, caminha a nossa triste humanidade. Por exemplo, quando estourou a atual pandemia, muito se falou de um livro de Stephen King (1947-), “A dança da morte” (1978), uma estória sobre o fim dos tempos, na qual, por um erro dos sistemas de computação dos militares americanos, um vírus é liberado, causando uma cadeia quase infinita de mortes. E o mundo, claro, nunca mais seria o mesmo. O autor até se desculpou de haver previsto tal pandemia. De minha parte, ele está desculpado. Sei que seu livro é ficção. E a Terra não é plana.
Na verdade, por estes dias, eu já vi pelo menos duas listas de livros – e confesso que gosto dessa moda de listas – que contam histórias e estórias sobre epidemias/pandemias. Uma foi na deliciosa revista Bula, cujas publicações eu acompanho e reproduzo no Twitter. A outra foi na BBC inglesa. Para quem não lê (ou prefere não ler) em inglês, vi depois que a matéria já foi traduzida, pela BBC Brasil, para o nosso querido português. Não sei se na íntegra. Mas é suficiente. Nada melhor do que ler no nosso idioma, mesmo que se tenha de conviver com traduções do tipo “testou positivo para a leitura”.
Nas listas da Bula e da BBC, por óbvio, está “A peste”. E estão também outros títulos maravilhosos, desde “Um diário do ano da peste” (1722), de Daniel Defoe (1660-1731), passando por “O amor nos tempos do cólera” (1985), de Gabriel García Márquez (1927-2014) e “Ensaio sobre a cegueira” (1995), de José Saramago (1922-2010), até a trilogia mais atual de Margaret Atwood (1939-), com “Oryx e Crake” (2003), “O ano do dilúvio” (2009) e “Maddadão” (2013). E por aí vai.
Esta semana, eu mesmo me aventurei nessa ficção de pandemia. Algo leve. Assisti ao filme “Inferno” (2016), direção de Ron Howard (1954-) e roteiro de David Koepp (1963-), com Tom Hanks (1956-) no papel do professor Robert Langdon e Felicy Jones (1983-) fazendo as vezes de uma bela vilã. O filme é baseado no livro homônimo de Dan Brown (1964-), que é de 2013. Basicamente, um milionário e um grupo de fanáticos desenvolveram uma praga biológica, tipo um vírus, que matará grande parte da população mundial, com o intuito supostamente altruísta de salvar a Terra da superpopulação. Péssima ideia, a deles, nem precisaria dizer. E os heróis, incluindo a diretora-geral da OMS, precisam intervir para nos salvar. Recomendo demais. O tratamento do tema, como já dito, é leve. Aprendemos sobre Dante Alighieri (1265-1321). Viajamos por Florença, Veneza e Constantinopla/Istambul (que saudade de viajar!). Tudo é muito movimentado. E o melhor é que temos um final feliz (e como estamos precisando disso!).
Por fim, é importante dizer que isso de um milionário e alguns fanáticos lutando a favor do vírus deve ser ficção. Eu acho.