*Vitoria Ocampo
Conheci a Sra. Woolf em 1934, em uma exposição do grande fotógrafo Man Ray, em Londres. Aldous Huxley me pegou na vaga esperança de que encontraríamos Virginia Woolf lá, a quem ele me apresentaria. Ela saía muito pouco e era difícil vê-la. No entanto, tive sorte. Ele chegou à exposição naquela tarde, usando um grande chapéu enfeitado com penas. Olhei para ela com admiração. Ela me olhou com curiosidade. Tanta curiosidade por um lado, e admiração por outro, que imediatamente me convidou para sua casa (que as bombas nazistas iriam destruir em breve; vi-a virar escombros em 1946, quando Virgínia já havia se suicidado). A primeira coisa que me impressionou nessa mulher foi sua beleza. A beleza dela começou, como direi… com o porte, os ossos do rosto, as sobrancelhas, a testa, o nariz, o queixo desenhado com uma firmeza desmentida pela boca, dolorosamente vulnerável. A boca contradizia inegavelmente o resto do rosto, exceto o olhar, quando parecia perdido, desconsolado, ao longe.
Esse “look” foi captado por uma das fotos da Gisèle Freund (aquelas fotos que me dão muito trabalho). Vita Sackville-West, sua amiga de longa data, foi assombrada por essa imagem, após a morte de Virginia. Por que não percebemos que ele estava à beira do suicídio? – ela me perguntou. Mas se é verdade que de repente o olhar fixo daqueles olhos se afogou numa maré de melancolia que a distanciou de tudo à sua volta (descobri-o quando a conheci), ela era também o oposto da melancolia: um fogo de artifício. Seres e coisas o interessavam demais para perder contato com eles. Ela os observou apaixonadamente. Eu os descrevi. Sua palavra falada, animada, inesperada, galopante, como sua palavra escrita, surgia espontaneamente, aparentemente sem o menor traço de estudioso. Essa escritora que conhecia tão bem seu ofício falava menos do que escrevia e do que vivenciava. Pelo menos foi assim que aconteceu comigo. Ela era o oposto de um Borges, que tem dificuldade em sair do raio da literatura e, se dele se desvia, nunca o perde de vista.
Vitória Ocampo