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Fobocracia

Alexsandro Alves, escritor e professor, usa elementos da mitologia grega para explicar o estado de coisas que tomou conta do Brasil em sua História recente, protagonizada pela vitória do amor.

*Alexsandro Alves

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Uma das grandes paixões de Afrodite foi o deus Ares, a guerra. Com ele, a deusa do amor teve dois filhos: Fobos e Deimos. Ambos são personificações do pânico: Deimos é o horror e Fobos, o medo. Na “Ilíada”, a deusa é companheira constante da guerra, sempre confabulam. Afrodite não se dá muito bem com Atena, a razão. Seu ódio por esta deusa é tanto, que incita várias vezes os troianos a destruí-la. O amor nunca será companheiro da razão, sempre preferirá a guerra. Pois ambos possuem o mesmo início: a paixão, e esta é o avesso da razão. Afrodite venceu aqui no Brasil ano passado, e com ela, venceram também o medo e o horror. Amor, medo e horror, executivo, judiciário e legislativo.

Falar no Brasil hoje é uma atitude vigiada e punida. Lembremos que o Ministério da Verdade, de Orwell, por pouco não se tornou real. Nossa fala precisa ser chancelada. Nosso pensamento, portanto, é refém. Há palavras que não podem aparecer numa mesma sentença. Exemplos: “eleição”, “urna”, “fraude”; “cabulosos”, “PT”; há toda uma junção léxica que precisa ser impedida nos neurônios, precisamos ter cuidado com o pensamento. Sobrevivemos em meio a uma guerra trazida pelo amor e, a cada dia, os filhos desse casal sorriem para o povo, introjetando a desconfiança e a insegurança. Indivíduos inocentes ou desonestos não percebem o Cavalo de Troia no meio da praça, esperando a noite da razão para ser aberto.

O inimigo número 1 é aquele “antidemocrático”. “Democracia”, a palavra e seus derivados, se transformaram em acusação: “seu discurso não é democrático”, isto é um crime; “democracia”, o sistema, se transformou em credo e em justificativa para encarceramento: “você é contra a democracia”. Esta democracia que foi planejada nos bastidores por militares e uma elite esbanjadora em 1889! De lá para cá, o Brasil alternou entre ditaduras e ladrões. Hoje, o quadro é o mais lastimável. Ninguém é de confiança, todos têm o “rabo preso”, legislativo e executivo. E assim, que nome a república merece? Uma república em que reina o medo entre o povo e a cumplicidade do ilícito entre a política e a justiça? Eis que a denomino de Fobocracia, o Poder do Medo.