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França: mais terrorismo, mais silêncio

Colaborador do Institute Gatestone, o jornalista italiano e escritor Giulio Meotti escreve sobre a derrocada politica da Europa, invadida e apropriada por terroristas islâmicos que destroem a cultura local  e apavora a população agora submetida a governos de esquerda

*Giulio Meotti

[email protected]

Este tipo de extremismo também conseguiu transformar muitos cidadãos europeus em prisioneiros, pessoas refugiadas em seus próprios países, condenadas à morte e forçadas a viver em casas mantidas em segredo até de seus amigos e familiares. E nos acostumamos com isso!

“Essa falta de coragem de seguir os passos da Charlie tem seu preço, estamos perdendo a liberdade de expressão e uma forma maligna de autocensura está ganhando terreno.” — Flemming Rose, Le Point, 2 de setembro de 2020.

“Pondo os pingos nos is, a liberdade de expressão está mal das pernas, isso no mundo inteiro. Inclusive na Dinamarca, na França e em todo o Ocidente. Estamos passando por um período conturbado, as pessoas priorizam a ordem e a segurança em vez da liberdade.” — Flemming Rose, Le Point, 15 de agosto de 2020.

[No dia 25 de setembro em Paris, duas pessoas foram esfaqueadas e ficaram gravemente feridas em frente à antiga sede da revista Charlie Hebdo, onde 12 dos editores e cartunistas da revista satírica foram assassinados por extremistas muçulmanos em 2015. O suspeito, sob custódia da polícia, está sendo investigado por crime de terrorismo.]

Os assassinos acusados nos ataques de 2015 estão no momento em julgamento em Paris.

Em 22 de setembro, pouco antes do ataque a facadas, a diretora de recursos humanos da Charlie Hebdo, Marika Bret, não voltou para casa. Na realidade, ela nem tem mais casa. Ela foi despejada após ter recebido sérias e concretas ameaças de morte de extremistas muçulmanos. Ela decidiu então tornar pública o que deveria ser uma “saída pela porta dos fundos”, para que a inteligência francesa alertasse o grande público para a ameaça do extremismo na França.

“Vivo sob proteção policial há quase cinco anos”, salientou ela ao semanário Le Point.

“Meus agentes de segurança receberam ameaças específicas e detalhadas. Dez minutos foi o tempo que me deram para que eu fizesse as malas e saísse de casa. Dez minutos para jogar para o alto parte da vida de alguém é muito pouco tempo, além disso foi extremamente violento. Não vou para casa. Estou perdendo minha casa por conta de explosões de ódio, ódio que sempre começa com ameaças para incutir medo. Nós sabemos muito bem como isso pode acabar”.

Bret também disse que a esquerda francesa abandonou a “batalha pelo secularismo”.

Desde o início do julgamento dos acusados de cometerem os assassinatos na redação da Charlie Hebdo em 2015 e, especialmente depois da reedição das charges de Maomé, a Charlie Hebdo recebeu tudo quanto é tipo de ameaças, entre elas a da Al Qaeda. Hoje a segurança da revista satírica é gigantesca. “O endereço da nossa sede é mantido em segredo, há portas de segurança por toda parte, portas e janelas blindadas, agentes de segurança armados, é pouco provável que alguém consiga entrar” ressaltou Bret.

Hoje há 85 policiais protegendo os jornalistas da Charlie.

Bret se tornou mais um exemplo da natureza clandestina da liberdade de expressão na França, país de Voltaire. O primeiro foi Robert Redeker, professor de filosofia. Em 17 de setembro de 2006, ele levantou cedo para escrever um artigo para o Le Figaro sobre a maneira da Europa lidar com o Islã. Três dias depois ele estava num lugar secreto e em fuga.

Em janeiro último, Mila O., uma menina francesa de 16 anos, fez comentários ofensivos sobre o Islã durante uma transmissão ao vivo no Instagram.

“Durante a transmissão, um menino muçulmano a convidou para sair, mas ela recusou por ser gay. Ele respondeu acusando-a de racismo, chamando-a de ‘lésbica imunda’. No vídeo seguinte, transmitido imediatamente após ter sido insultada, Mila respondeu dizendo que ‘odeia religião'”.

Mila continuou, dizendo entre outras coisas:

“você sabe o que é liberdade de expressão? Não hesitei em dizer o que eu achava. Odeio religião. O Alcorão é uma religião de ódio, só há ódio nela. É isso que eu acho. Digo o que penso. O Islã é uma m***a … Não sou racista de forma alguma. Não se pode simplesmente ser racista contra uma religião… Eu digo o que quero, eu digo o que penso. Sua religião é uma merda. Eu enfiaria um dedo no c* do seu deus…”

Depois que o endereço de sua escola foi postado nas redes sociais, ela foi forçada a sair e foi transferida para outra escola, desta vez mantida em segredo.

O jornalista Éric Zemmour foi atacado inúmeras vezes em frente da sua casa, a jornalista franco-marroquina Zineb el Rhazoui também viu o endereço da sua casa publicado nas redes sociais.

Enquanto isso, há de se reconhecer que o presidente francês Emmanuel Macron tem defendido o direito à liberdade de expressão da Charlie Hebdo. Blasfêmia ressaltou ele, “não é crime.”

“A lei é clara: temos o direito de blasfemar, de criticar, de caricaturar as religiões. A ordem republicana não é uma ordem moral… o que é proibido é incitar o ódio e atacar a dignidade”.

Após uma batalha jurídica ocorrida em 2007 ficou decidido que “na França é possível insultar uma religião, suas figuras e seus símbolos… no entanto, é proibido insultar aqueles que professam uma religião.”

As corajosas palavras das autoridades francesas, no entanto, parecem inofensivas, tímidas e chochas, em comparação com a força da violência extremista e da intimidação.

O fundamentalismo islâmico já conseguiu desalojar não só milhares de cristãos perseguidos, como Asia Bibi, forçada a fugir do Paquistão para o Canadá para salvar a própria pele após ter sido absolvida de ter cometido blasfêmia. Este tipo de extremismo também conseguiu transformar muitos cidadãos europeus em prisioneiros, pessoas refugiadas em seus próprios países, condenadas à morte e forçadas a viver em casas mantidas em segredo até de seus amigos e familiares. E nós nos acostumamos com isso!

No dia em que o Irã emitiu a sentença de morte a Salman Rushdie pelo seu romance Os Versos Satânicos, ele e sua esposa, Marianne Wiggins foram levados de sua casa na região norte de Londres pelo serviço secreto britânico para o primeiro dos mais de cinquenta “esconderijos” em que o escritor viveu nos dez anos seguintes.

O parlamentar holandês Geert Wilders, cujo nome foi encontrado em uma folha de papel presa com uma faca no corpo do cineasta assassinado Theo van Gogh, como aviso de que ele será o próximo a ser assassinado, vive em esconderijos desde 2004. “Estou em uma prisão, “diz ele, “e eles estão por aí livres e desimpedidos.”

Há dez anos, a repórter Molly Norris da Seattle Weekly, em nome da solidariedade para com os criadores do desenho animado da televisão “South Park” que estão em perigo, também desenhou uma caricatura de Maomé. O último artigo de jornal que falava a seu respeito dizia:

“vocês devem ter notado que a coluna de Molly Norris não aparece mais na edição desta semana. Isso porque não há mais Molly… seguindo o conselho dos especialistas em segurança do FBI, ela irá se mudar bem como mudar de nome…”

O jornal dinamarquês Jyllands Posten, que primeiro publicou as charges de Maomé em 2005, jogou a toalha. O jornal se recusou a reeditar as caricaturas do Profeta do Islã quando a Charlie Hebdo as reimprimiu na primeira página. O editor que publicou as charges no Jyllands Posten, Flemming Rose, ainda é escoltado por guarda-costas. “Eu realmente admiro a coragem da Charlie”, afirmou ele.

“Heróis que não sucumbiram às ameaças ou à violência. Lamentavelmente, eles tiveram pouco apoio. Nenhuma publicação, seja na França seja no restante da Europa, se porta como a Charlie. É por isso que eu acredito que na Europa existe uma lei tácita contra a blasfêmia. Não estou criticando os jornalistas nem os editores que procederam dessa maneira. Não podemos culpar aqueles que, ao contrário da Charlie, não querem colocar suas vidas em perigo. Mas não sejamos tolos: essa falta de coragem de seguir os passos da Charlie tem seu preço, estamos perdendo a liberdade de expressão e uma forma maligna de autocensura está ganhando terreno”.

Nos últimos dias, o novo editor da Jyllands Posten, Jacob Nybroe, tem repetido:

“não vamos mais publicá-las. Confirmei essa linha editorial quando cheguei e recebi muitos aplausos. Posso até parecer covarde, mas não podemos publicá-las”.

Os nomes de cartunistas dinamarqueses apareceram na mesma “lista de acerto de contas” que a Al Qaeda publicou juntamente com o nome do editor-chefe da Charlie Hebdo Stéphane Charbonnier, assassinado no massacre de 2015. O cartunista dinamarquês Kurt Westergaard está vivo somente porque ele se escondeu em meio a um ataque terrorista contra a sua casa.

Hoje a sede do Jyllands Posten possui janelas à prova de balas, barras e placas de ferro, arame farpado e câmeras de vídeo. Ela fica em frente ao porto de Aarhus, a segunda maior cidade da Dinamarca e é monitorada dia e noite. Cada porta automática, cada elevador, requer um crachá e um código. Você entra como se entra num cofre de banco. Uma porta se abre e somente depois que ela se fecha é que a próxima se abre. Os jornalistas que lá trabalham entram um de cada vez. “Pondo os pingos nos is, a liberdade de expressão está mal das pernas, isso no mundo inteiro. Inclusive na Dinamarca, na França e em todo o Ocidente”, salientou Rose, “estamos passando por um período conturbado, as pessoas priorizam a ordem e a segurança em vez da liberdade.

Se cada um de nós não defender as nossas liberdades, logo não as teremos mais.

Tradução: Joseph Skilnik