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Franklin Jorge e o instinto da palavra

Em comemoração aos 70 anos de Franklin Jorge, Navegos passa a publicar a partir de hoje até o dia 8 de Setembro uma série de artigos e depoimentos amealhados ao longo dos últimos 50 anos sobre a vida e a obra do escritor e jornalista nascido no Ceará-Mirim

*José Nicodemos -Filólogo,  Escritor e Jornalista

Dá pena, mais do que isso, revolta, ou ainda mais, ira não termos publicada toda a obra do escritor potiguar Franklin Jorge, senhor de um estilo que barateia os brios de senhores feudais do território literário daqui. E como é fácil imaginar, perdem as nossas acanhadas letras, e dou o pescoço a forca: a mesma literatura pátria. Franklin possui o instinto da palavra.

E de maneira tal que, na sua mão de demônio literário, as palavras se ameigam, as palavras se tornam dóceis, as palavras acodem numa submissão impressionante. Fluem, voam, desbravam sentidos e, ainda quando ferem, trazem um sabor de fruta madura na ponta do aguilhão. Ora, pois; quem que, mesmo comido de ódio invejoso, não o lê, a Franklin, com os olhos lambidos de incontida admiração?

Ódio invejoso; e não será por outro motivo, a que talvez se juntem outros a titulo de disfarce, como a coragem com que ele, Franklin Jorge, tem expulsado a transparentes chicotadas os vendilhões do templo, não será por outro motivo que lhe boicotam a produção literária, conforme lhe procuraram fechar as portas da subsistência, sem se aperceberem da mesquinhez do gesto. Almas nanicas.

O fato é que, como se vê, nada perde com isso Franklin Jorge, que não se pode matar Franklin Jorge escritor, senão que a literatura da nação de Câmara Cascudo, tão escassa de valores para que se diga legítimos. Anjo ou demônio – é livre a aposta – a verdade sem contestação é que estamos diante de “um monstro sagrado”, vá o lugar-comum, capaz de fazer as honras de qualquer literatura.

Saímos perdendo, eis aí, todos nós, potiguares, que temos sede de beber em fonte pura, que não no pântano que se vende sob aplausos humoristicamente idiotas. Mas que fazer, meu apreciado Franklin Jorge, se embuste literário, aí vitorioso, cuspiu na cova do morubixaba? É ter paciência. Ouro de lei é artigo que não se vende em loja de miçangas. Você é Franklin Jorge. Não basta?

*Publicado em “De Fato” [Mossoró, RN, 12 de dezembro de 2015]

José Nicodemos