*Franklin Jorge
Frederico Rolfe [1860-1913] recebeu o título de barão de uma admiradora e protetora, a duquesa Sforza Cesarini. O condado, localizado nos Açores, tem origem obscura e remonta à expansão portuguesa. Atualmente tem pouco mais de 500 habitantes e ninguém o refere como um dos mais importantes endereços da Literatura.
Escreveu Frederico Rolfe ficções biográficas e novelas pseudo-históricas. A partir de 1934 com a publicação de sua biografia por A.J.A Seymons, The quest for Corvo, criou-se à volta de seu nome um culto devocional ao escritor que fugia ao lugar-comum e viveu na obscuridade. Criador dotado de múltiplos talentos, o excesso de dons cavou-lhe a pobreza. Passou a vida entregue a ofícios extenuantes, como escrever. Queria ser cardeal, um príncipe da igreja, mas acabou expulso do seminário em Roma.
Pertence Baron Corvo àquele clube exclusivo de escritores para escritores. Um escritor que seus pares reconhecem como um dos seus. Alguém que agrada superiormente a um outro escritor. Alguém capaz de falar através de miríades de vozes. Se o lemos, agrada. Logrou ser autor e personagem, associação que rende imortalidade e controvérsia.
Nascido na Inglaterra, onde viveu grande parte de sua vida, morreu em Veneza em 1913. Escreveu Adriano Sétimo, obra-magna, evoca a figura de um papa ideal, protagonista em um mundo em desintegração. Parece o irmão do Papa João Paulo Segundo sequestrado na maternidade. Frederico parece ter se inspirado no próprio papa para escrever seu romance, que morre em um atentado na Praça de São Pedro. O livro antecipa o pontificado de João Paulo, creio que cerca de 70 anos antes do polonês sentar-se no Trono de São Pedro.
Seus livros parecem implacavelmente escritos, com determinação e abnegação desusada. Como se a pobreza procriasse a obra.
Enredado em abismos, determinado a ir cada vez mais fundo em seus abismos, somente alguém com a sua cultura podia escrever Adriano Sétimo; uma personagem algo trágica, maior que o seu tempo.
Livro extraordinariamente bem urdido. Nenhum detalhe foi esquecido pelo autor, perfeccionista em tudo. Deve ter sugado a energia do autor em palavras e pensamentos. A maneira como contextualiza o seu pontificado, recorrendo aos noticiários das agencias internacionais e a efervescência do comunismo em diversas frontes. Adriano Sétimo se engrandece como estadista. Tem um olhar para o mundo e como humanista compartilha da angústia e dores do mundo. Sua personagem não é o padre de passeata, mas um ser vivo e ativo, um ser que pensa no interesse de muitos
A morte de Adriano é um desses grandes momentos da literatura. Algo que passa a fazer parte da história da literatura.
