*Luiza Romão
Bom, eu venho do teatro e uma das pilastras da educação, ou da formação teatral, inclusive é uma coisa que eu penso criticamente no livro, é a Grécia antiga. Eu sempre li muita tragédia antiga, O banquete, os textos mais literários – literário é um termo meio anacrônico aqui, mas, enfim – tanto essa tradição poética épica, quanto dramatúrgica. E um tanto também dos poemas, das epopeias, da filosofia.
E é muito curioso isso, de que a gente está no Brasil, um país que passa por um processo muito violento de colonização, e que se perpetua de diferentes formas até hoje, e a gente estuda tanto a Grécia. A gente tem esse modelo importado e colocado como um ideal de estética, de política, enfim, de racionalidade e por aí vai. E ao mesmo tempo, a gente não olha para muitas tradições e culturas que vêm sendo produzidas há milênios na América Latina, em diferentes partes do Brasil.
Eu já tinha esse contato muito forte com as mitologias e as narrativas da Grécia antiga, e eu lembro muito da sensação que eu tive quando eu terminei de ler a Ilíada, isso foi na virada de 2016 para 2017. E foi uma sensação de muito horror, eu lembro de ficar muito mexida com a quantidade de violência que está sendo narrada ali.
A Ilíada é a história de uma guerra, entre gregos e troianos, é um recorte que o Homero faz entre uma briga entre Aquiles e Agamémnon, e o enterro do Heitor. Então, ele pega um trecho dessa guerra, que dura 10 anos e é um acúmulo de mortes. Eu tinha, inclusive, o desejo de reler o livro, só circulando os verbos de matar. Eu não fazia ideia que a gente tinha, na língua portuguesa, tantos verbos de morte, de dor, para infringir a dor ao outro e outras formas de subjugação, formas de tortura e por aí vai.