*Franklin Jorge
O jornalista José Vanilson Julião, generoso Colaborador de Navegos, cuja camisa veste com honra, pede-me que escreva um artigo sobre esse bicho inteligente e mal compreendido, que Clarice Lispector no entanto tinha em alta conta, a ponto de em certa época ter uma de estimação no terraço de seu apartamento, no Leme. Segundo ele, complementaria o conjunto de dois artigos que escreveu sobre o tema e foram publicados aqui, sob os títulos O sequestro das galinhas e O regate das galinhas com a expressiva e calorosa recepção dos leitores.
Confesso que nunca escrevi sobre esse tema, exceto em passant, por mera casualidade. Que me lembre, uma noite, no Panon, entrevistando o velho Inocêncio – que me conheceu nos braços de minha ama -, fui chamado de volta ao presente pelo canto de um galo que do alto dum umbuzeiro nos advertiu sobre a passagem das horas. Foi em 1983 e me lembro até do tema da conversa, a repercussão do noticiário sobre a ameaça do presidente José Sarney de pegar o boi no campo, se fosse preciso, para fazer o brasileiro de novo comer carne bovina, conversa que ambos consideramos conversa fiada ou miolo de quartinha. Sarney é só mais um demagogo que engordou com a gordura dos maranhenses, disse, entre uma baforada e outra de seu aromático cachimbo de barro.
Curiosas e frívolas, tem servido de inspiração a muitos escritores e artistas, que as descrevem, interpretam e pintam para o agrado de muitos que se deixam encantar por sua graça, apesar da fama pouco lisonjeira que as perseguem. Mas há historia da miserável galinha de Stalin. O Ogro eslavo quis mostrar aos seus lugares-tenentes quão fácil é dominar a massa e para isto usou uma galinha faminta como exemplo. Depenou-as, didaticamente, e, quando a penosa estava ensanguentada, mandou que jogassem um punhado de milho. Ele soltou a galinha em sangue vivo e ela saiu correndo em direção ao milho e se pôs a come-lo com apetite. É assim que dominaremos o povo, esfolando-o e mantendo-o faminto. Um punhado de milho basta para manter o povo submisso.