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História de minhas leituras (3-3)

Fundador de Navegos dá continuidade às suas lembranças resultantes de escreve malfadado projeto que lhe foi proposto pelo escritor Antônio Carlos Villaça, de escrever a história de suas leituras, um tema que só lhe despertou interesse quando a sua biblioteca foi roubada e retalhada em lojas de sebistas inescrupulosos que sequer se deram ao esforço de procurar o proprietário para saberem o que estava por trás dos fatos, algo facílimo de fazer, pois os livros roubados e vendidos traziam, além do nome do nome do proprietário, uma farta anotação manuscrita e assinada pelo ledor espoliado.

*Franklin Jorge

Os livros nascem dos livros, disse-o o criador do conceito de modernidade, o poeta e ensaísta francês Charles Baudelaire, palavras que usei como epígrafe na edição de Ficções fricções africções (Editora Mares do Sul, Santa Catarina, 1999 =Prêmio Luís da Câmara Cascudo da Prefeitura de Natal. Escrever, para os mestres vai além de dispor as palavras em sequência em uma página em branco. Todo grande escritor está subsidiado por uma biblioteca e não apenas pelo desejo vaidoso de ser reconhecido como escritor.

Escrever, cônscio do que criamos, vai além desse desejo que caracteriza os autores medíocres e pouco exigentes, que se comprazem com elogios fáceis, geralmente arrebanhados de outros autores do mesmo naipe, algo que a meu ver constitui uma espécie de masturbação em que todos gozam no final.

Alguns autores, como Montaigne e Borges, acreditam mais na releitura continuada dos mesmos autores do que na variedade de títulos. Quando jovem, li muito e desabridamente. Com o tempo, aprendi a reler e a extrair, dessas releituras as novidades que a releitura proporciona. A biblioteca pessoal de Borges constava de poucos livros embora ele tivesse ao alcance de seu interesse mais de um milhão de títulos armazenados na Biblioteca Nacional de Buenos Aires, que por muitos anos dirigiu e dela usufruiu, jamais lendo autores que não tivessem passado pelo crivo do tempo, ou seja, autores cujas obras houvessem sido publicados há, pelos menos, um século. Ora, se u autor sobrevive ao tempo, certamente estará referto de novidades, pois o novo – como diria a arguta chapeleira da rainha Maria Antonieta – é o velho que estava escondido.

Atualmente, desde o advento da Industria Cultural, os escritores se forjam pelas leis de mercado. Autores incultos e desprovidos de estilo personal são os que mais vendem. A literatura como a conhecemos, tornou-se uma linha de montagem, como os Dan Brown e Paulo Coelho da vida.  Autores que evidentemente não pertencem ao mundo da Alta Cultura meros empulhadores.que se beneficiam da precária educação literária dos leitores e leem até bulas de remédio.

Reconheço que há o vicio da leitura que nos leva, em algum momento, a ler qualquer coisa. Mas isto não faz deles leitores, como o uso da cocaína não abre as portas da percepção.

Escrever e publicar se reveste algum charme, mas só isto. O acadêmico Diógenes da Cunha Lima, por exemplo, já publicou mais de 30 títulos, cada um segundo um estilo que não lhe é próprio. Vaidoso e endinheirado, cultiva hábito de passar por escritor, pagando a um e a outro que lhes escreva os livros que pública sob a sua lavra, sem se pejar da diversidade de estilos que caracterizam suas publicações desenxabidas.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

[….]

 

 

Em destaque, a escritora mineiro-potiguar Maria Eugênia Maceira Montenegro e Franklin Jorge; em cima, o escritor que a tem como amiga e mestra. Fotos: João Maria Alves (1979) e Carlos Duarte (2006) Carlos Duarte