*Da Redação
Rodado em 2018 na cidade do Assú e em São Rafael, o filme A Baronesa de Serra Branca enfoca a figura de Dona Belisária Lins Wanderley, consorte do Barão de Serra Branca Felipe Néri de Carvalho e Silva, assassinado por um escravo em Caicó quando voltava de uma romaria ao Canindé, no Ceará. O casal não teve filhos, mas criou, como seu, o filho de uma escrava que morreu, como se dizia então, na flor da idade. A baronesa morreu em 1933 aos 95 anos, à Avenida Rio Branco, em Natal, num solar de dois pisos que se distinguia por uma grande escadaria externa, já demolido. Foi a última remanescente da nobiliarquia brasileira a sobreviver à queda do Império.
Descendente de Gonçalo Wanderley, filha de Gaspar, militar prussiano que veio para Pernambuco como Capítão da Guarda do Príncipe Maurício de Nassau, governador holandês no Brasil que embelezou o Recife e deu-lhe um novo nome, Cidade Maurícia, dotando-a de pontes e canais que certamente evocariam sua terra originária. A Capitania do Rio Grande [do Norte] esteve durante vinte anos sob o seu domínio. Aqui ele mudou o nome do Forte dos Reis Magos para Castelo de Keulen e promoveu, através de um preposto, o judeu Jacó Rabbi – historicamente nosso primeiro historiador -, o hediondo massacre de quarenta agricultores que assistiam a missa dominical na capela de Cunhaú na hora da Elevação. O papa João Paulo ll os beatificou em reconhecimento ao martírio que estarreceu a todos e se tornou lendário.
Produzido por Paulo Sérgio de Sá Leitão, o longa-metragem coloca em evidência um dos mais importantes episódios da história local, a abolição dos escravos de Serra Branca, a propriedade do barão. Abolicionistas, os barões de Serra Branca libertaram seus escravos cinco anos antes da Abolição lavrada pela Princesa Isabel e a baronesa os recepcionou com um jantar servido numa grande mesa de carvalho entre as paredes da já desaparecida Igreja do Rosário dos Pretos, na praça homônima, no Centro do Assu. Construída por escravos, faltava à obra apenas a cobertura quando da Abolição em 5 de maio de maio de 1885. A baronesa, vestida os serviu à mesa, de avental, a cabeça coberta por uma touca, e lhes entregou o documento que que os declaravam livres e cidadãos.
A equipe técnica e atores do longa é composta por pessoas da região. A baronesa é interpretada por Josyanne Talita, de 27 anos, que é professora de música e o barão por Alyson Santos, de 32 anos. O filme conta ainda com a participação de poetas, seresteiros e grupos de capoeira e dança africana. O financiamento da obra foi através da própria equipe que compõe o filme e contribuição de parceiros.
Trailler do filme: