*Franklin Jorge
Misherlany Gouthier, pseudônimo de Misherlany Gomes Araújo, trinta anos, é um pesquisador sério, criterioso e cético quanto à primeira informação, conforme atesta o livro que dedicou à sua terra natal, Almino Afonso, há pouco lançado pela Coleção Mossoroense. Não bastasse ter sido, por sete anos, secretário e colaborador do professor Raimundo Soares de Brito, cujo labor intelectual tem contribuído para o enriquecimento da cultura no Rio Grande do Norte, Michel – como o chamamos na intimidade – tem, do pesquisador autêntico, o faro acurado e certo para os fatos relevantes.
Prova-o esse livro, que, não sendo de estréia, tem algo de inaugural, no que se refere à história do município de Almino Afonso, pela seriedade e profundidade com que aborda o tema – a formação e o desenvolvimento de uma cidade, descritos com fluidez e uma espécie de generosidade que assinala a categoria do autor. “Almino Afonso – Nas trilhas de uma cidade” erige-se, pois, em monumento e fonte de pesquisa para o nosso tempo e as futuras gerações de pesquisadores ou apenas curiosos da história regional.
Reportando-se a documentos e à tradição oral, esquadrinha as origens e a formação do município, desde a antiga localidade de Caieira com a sua feira multitudinária e arregimentadora, estuário da produção agrícola e artesanal, em pleno XVIII. Sua curiosidade de pesquisador, formado na escola da Rua Henry Koster, abarca uma vasta temática, esmiuçada em paciente trabalho de pesquisa de campo. Daí a originalidade e a qualidade de sua obra, feita para durar.
Michel envolve o leitor, levando-o a passear e a conhecer pessoas e lugares que ele próprio conheceu e que passaram a fazer parte de sua tessitura emocional e afetiva. “Almino Afonso – Nas trilhas de uma cidade” não é, pois, mais um desses relatórios frios e sem alma produzidos por fazedores de livros que se beneficiam da complacência dos críticos e, sem proveito senão para a vaidade dos autores, infestam a academia e contaminam o movimento editorial. Repositório da história vivida e construída por seus conterrâneos, constitui uma ponte entre o passado e o futuro.
O autor participa do livro, dialogando com as personagens que fizeram e fazem a história do município, sem dogmatismo nem falseamento da realidade, chamando a atenção do leitor para os seus tipos populares, registrando os fatos e acendendo fogos para o que lhe parece digno da posteridade. Até aí o pesquisador cônscio, capaz de recorrer ao escritor ainda tocado pelas brumas mitológicas da infância em um meio que lhe prefigurava o paraíso na terra.
Misherlany honra sobremaneira sua terra com este livro que se lê com proveito e encanto, por ser o que é – uma obra feita de memória e sentimento, de razão e de lógica. Uma obra que assegura ao seu autor, desde já, a condição de fonte de consulta permanente que não pode faltar às bibliotecas da nossa terra, ainda carente de referências criteriosas. Louvado seja.