*Franklin Jorge
A professora Célia Magalhães destaca-se, em Missão Velha, por sua determinação em dar expressão e visibilidade aos valores históricos e culturais de sua cidade, uma das mais antigas do estado do Ceará, onde nasceu, vive e contribui para o seu desenvolvimento humano, através de uma prática pedagógica que valoriza personagens e fatos da história local.
Autora de Nosso Povo, Nossa História, dá-nos agora Fatos e Curiosidades de Missão Velha [Programa Editorial da Casa de José de Alencar-Universidade Federal do Ceará], nos quais relata fatos dignificantes de sua venerada terra natal. Graduada em História pela Universidade Regional do Cariri, com pós-graduação em Planejamento Educacional pela Universidade Salgado de Oliveira, pertence ao Instituto Cultural do Vale do Cariri, onde ocupa a cadeira de número 13.
Conhecia-a, na companhia de Honório de Medeiros, quando fazíamos o chamado “roteiro do cangaço”, em busca de subsídios para o livro que o ilustre mossoroense está escrevendo sobre Massilon Leite, autor intelectual da invasão de Mossoró por um segmento do bando de Lampião, em 13 de junho de 1927. Estivemos em sua casa, no centro de Missão Velha, onde fomos recebidos calorosamente e logo encaminhados para uma visita a um dos homens bons do lugar, de curiosa personalidade, numismata e sabedor da história oficial e oficiosa, já visivelmente tocado pelo dedo longo da morte, que nos recebeu sentado em sua velha cadeira de balanço, em meio a uma variedade de objetos, livros, documentos e uma valiosa coleção de moedas remanescentes do Império. Era o querido padrinho e amigo de Célia, inspirador de suas pesquisas, um homem inteiramente arraigado à terra, relutando em procurar tratamento médico em centros mais adiantados, para não deixar o lugar onde viu a luz…
Antigo reduto dos Cariris, Missão Velha tem um relevo geográfico marcado por serras e suaves ondulações, compreendendo uma área de 533,9 km2. Teve o primeiro engenho de rapadura da região e, em 1748, a criação da Freguesia dos Cariris Novos, origem do velho arraial, impulsionado desde 1730 pela presença ativa e constante de missionários Capuchinhos, oriundos do Convento de Nossa Senhora da Penha, no Recife. Em 1702 os primeiros povoadores depararam os índios Cariris, aldeados na Cachoeira, primeiro núcleo de povoamento do que seria Missão Velha.
Situada a três quilômetros da sede do município, a Cachoeira detém uma fauna e uma flora quase inexplorada, despertando a curiosidade e o interesse de turistas e pesquisadores. Formada pelas águas de três rios, Salgado, Salamanca e Missão Velha e seus afluentes, sua formação geológica, remonta a antiqüíssima Era Paleozóica. Em maio e agosto, recebe mais de dois mil visitantes, que tomam banho em suas águas e desfrutam de um pedaço do Paraíso na terra. O filme “Corisco e Dadá”, do cineasta Rosemberg Cariri, teve cenas filmadas no local, que, no entanto, ainda não recebeu do governo os investimentos necessários para transformá-la, de fato, num endereço turístico.
Grande parte das riquezas de Missão Velha continua desconhecida até de seus filhos, informa a jovem e bela historiadora em seu último livro, precioso relicário da história do seu povo e de sua terra, onde há uma serra dourada, onde, há mais de três séculos, o ouro atraiu aventureiros de toda a parte. Um lugar, enfim, digno de ser conhecido e visitado, especialmente por todos os que desejam ampliar seus conhecimentos do Nordeste brasileiro.