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Holocaustos

As destruições das cidades de Dresden, Hiroshima e Nagasaki foram crimes de guerra nunca punidos. Holocaustos incontestáveis que precisam ser compreendidos como crimes contra a humanidade.

*Alexsandro Alves

[email protected]

13 de fevereiro de 1945. 06 de agosto de 1945. 09 de agosto de 1945.

Nessas datas, respectivamente, as cidades de Dresden, na Alemanha, e as de Hiroshima e Nagasaki, no Japão, foram insanamente bombardeadas. As duas cidades japonesas, respectivamente, com a Little boy e a Fat man, apelidos dados às duas bombas atômicas que as varreram.

Dresden sempre foi uma cidade cultural, de nenhuma importância militar. A Florença do Elba, como era conhecida, abrigava construções como a igreja Frauenkirche, o teatro de ópera Semperoper, o Castelo de Dresden, com sua exuberante escadaria em estilo inglês, de 1692, entre outras.

 

                                                                                                                             FrauenKirche, em 1930
                                                                                                                  A igreja, após os bombardeios de 1945

A alegação dos Aliados para os bombardeios foi que a cidade possuía importantes fábricas militares. Mentira. Não se justifica do ponto de vista militar e moral. Do ponto de vista militar, a guerra já estava em seu final, os ganhos militares foram irrisórios.

Do ponto vista moral e ético, a manobra militar pode ser considerada um crime de guerra, 90% dos mortos, dos quase 300.000, foram civis, basicamente mulheres e crianças, e não militares. Muitas delas, refugiadas que fugiam dos estupros coletivos e torturas do Exército Vermelho no Leste. Essas pessoas foram queimadas vivas. A cidade ardeu a uma temperatura que fez os corpos se fundirem ao asfalto, enquanto uma tempestade de fogo desmoronava dos céus. Foram 3 dias de bombardeios que transformaram a cidade em cinzas. Corpos foram amontoados pela cidade, alguns dias depois, quando ela por fim esfriou. A intensidade das chamas provocou um clarão que dava para ser visto a 80 quilômetros de distância.

Os bombardeamentos atômicos das cidades japonesas são mais famosos e noticiados. Se concorda que de fato, mais ainda do que em Dresden, não havia necessidade militar. Com os ataques atômicos ao Japão, se queria mesmo mostrar o poderio estadunidense tanto como forma de provocar grande terror não apenas nos japoneses e no mundo, quanto também, do ponto de vista ideológico, politicamente, um aviso aos soviéticos, um prelúdio à guerra fria.

Segue o depoimento de Sumie Kuramoto, que presenciou o ataque aos dezesseis anos de idade:

Nunca esquecerei esse momento. Pouco depois das 8 da manhã, houve um estrondo, uma explosão reverberante e, no mesmo instante, um clarão de luz amarelo-alaranjado entrou pelo vidro do telhado. Ficou tudo tão escuro como noite. Um golpe de vento atirou-me no ar e a seguir no chão, contra as pedras. A dor estava apenas brotando quando o prédio começou a ruir em torno de mim. Aos poucos o ar se aclarou e eu consegui sair dos destroços. No caminho para um dos centros de emergência vi muita confusão. As ruas estavam tão quentes que queimavam meus pés. Casas ardiam, os trilhos de bonde irradiavam uma luz sinistra e no local de um templo pessoas se amontoavam. Algumas respiravam, a maioria estava imóvel. No pronto-socorro chegava gente correndo, as roupas rasgadas, chorando, gritando. Alguns tinham o rosto ensanguentado e inchado, outros tinham a pele queimada caindo aos frangalhos de seus braços e pernas. Em um bonde vi fileiras de esqueletos brancos. Havia também os ossos de pessoas que tentaram fugir. Hiroshima tinha se tornado num verdadeiro inferno. (Coleção Guerra na Paz, volume 1, Rio de Janeiro/RJ, Ed. Rio Gráfica, 1984, p. 39).