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Seria a ficção uma forma do escritor mostrar-se ao mundo, ou seria através do escritor que o mundo se mostra? Cabe a quem escreve interferir no mundo que cria? Ou o escritor precisa estar escondido, nunca se revelando em parágrafos?

*W. G. Sebald

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Acho que a ficção que não reconhece a incerteza do próprio narrador é uma forma de impostura que acho muito, muito difícil de aceitar. Qualquer forma de escrita do autor em que o narrador se estabelece antecipadamente como ajudante de palco e diretor, juiz e executor de um texto, acho um tanto inaceitável. Eu não consigo ler livros assim […]. Se queremos dizer “Jane Austen”, queremos dizer um mundo onde havia regras de propriedade que todos aceitavam. Se temos um mundo em que as regras são claras, e em que você sabe quando começa a transgressão, acho legítimo, nesse contexto, ser um contador de histórias que sabe quais são as regras e que sabe as respostas para certas perguntas. Mas acredito que essas certezas nos foram tiradas ao longo da história e que devemos reconhecer nosso senso de ignorância e inadequação nessas questões e, portanto, tentar escrever de acordo.

 

W. G. Sebald (1944-2001), escritor alemão.

O escritor.