*Nadja Lira
A primeira parte dessas impressões você encontra AQUI.
Por ser contrária a lei de Deus, a Igreja Católica se posiciona contra a eutanásia. Preceitos da religião declaram que a vida é um dom de Deus e, portanto, somente a Ele cabe a responsabilidade de dar e tirar a vida de um ser.
O Catecismo da Igreja Católica tem vários pontos condenando a prática da eutanásia. O artigo 2276, por exemplo, faz a seguinte afirmação: “Aqueles que têm uma vida deficiente ou enfraquecida reclamam um respeito especial. As pessoas doentes ou deficientes devem ser amparadas, para que possam levar uma vida tão normal quanto possível”.
O artigo 2277 do referido Catecismo afirma que, quaisquer que sejam os motivos e os meios, a eutanásia direta, a que consiste em pôr fim à vida de pessoas deficientes, doentes ou moribundas, é moralmente inaceitável. Assim, uma ação ou uma omissão que, de por si ou na intenção, cause a morte com o fim de suprimir o sofrimento, constitui um assassinato gravemente contrário à dignidade da pessoa humana e ao respeito do Deus vivo, seu Criador. O erro de juízo, em que se pode ter caído de boa-fé, não muda a natureza do ato homicida, o qual deve sempre ser condenado e posto de parte
O Papa Francisco também se posiciona contrário à eutanásia afirmando que “é preciso reiterar que a vida humana, desde a concepção até a morte natural, possui uma dignidade que a torna intocável”. “Sem uma esperança fiável que ajude o homem a enfrentar também a dor e a morte, ele não consegue viver bem e conservar uma perspectiva confiante diante do seu futuro.”
Para mim, a decisão sobre a legalidade da eutanásia é um tema muito difícil. Se por um lado eu penso que abreviar o sofrimento de um ente querido que leve uma vida vegetativa seria um gesto de amor e de misericórdia, por outro, não me sinto no direito de tomar uma decisão como se fosse Deus. Por ser católica, respeitar os preceitos da Igreja e não me considerar dona da vida de qualquer ser, não concordo com a eutanásia.
Penso que, se a minha mãe estivesse em estado vegetativo, ligada à vida através de equipamentos eletrônicos, nem assim eu seria capaz de autorizar o fim da vida dela, porque acredito que somente Deus tem esta responsabilidade.
Vi-me, há pouco tempo, diante de um dilema no qual precisei autorizar a eutanásia do cachorro da minha casa e confesso que não foi uma decisão fácil. Tive que assinar a sentença de morte de um ser que viveu na minha casa durante sete anos e que deu a mim e a minha família, as maiores provas de amor e fidelidade. Autorizar sua morte me renderam muitas lágrimas, angústia e noites mal dormidas.
A decisão só foi tomada depois de uma reunião familiar e de uma longa conversa com o médico veterinário, segundo o qual, nada mais havia a ser feito para preservar a vida do cachorro. Ele havia contraído várias doenças, entre as quais a Leishmaniose, mal, que de acordo com o veterinário, colocaria em risco a minha própria vida, a da minha família, dos meus vizinhos e ainda teria um agravante: algum morador poderia denunciar-me à Justiça, por manter em casa um animal em estado tão grave. Então, não me restou alternativa.
O procedimento para colocar fim à vida do meu cachorro, de acordo com as explicações do médico veterinário, se daria da seguinte forma: primeiro ele daria uma injeção para o cachorro dormir; depois outra injeção para anestesiá-lo e por fim, a injeção letal, que provoca uma parada cardíaca e paralisa o coração do animal. Esta prática, segundo ele, é muito comum nos Hospitais Veterinários e durante muito tempo, ele tentou me convencer que assinar a morte do cachorro, era a melhor escolha e um ato de amor pelo animal. Para mim foi motivo de muita dor e para aliviar o peso da minha consciência fui me confessar. Fui absolvida dada a gravidade da situação.