*Alexsandro Alves
“A cada dia o futuro parece mais sombrio. Mas o passado, mesmo as piores partes, vai ficando cada vez mais brilhante”, é assim que a senhora Juspeczyk justifica para sua filha seu apego às trivialidades e aos pormenores mais chocantes de sua vida, em Watchmen, obra-prima de Alan Moore com desenhos de Dave Gibbons.
Sexta-feira, dia 01 de dezembro, eu estava em uma padaria, esperando seu excelente serviço, trinta minutos sentado por uma tapioca com carne de sol na nata e o garçom chega afirmando que não tem nata. Me pergunta se pode trocar por requeijão.
Quando alguém lhe perguntar isso, ou se o leitor ler em um menu “requeijão”, pergunte pela marca. Só aceite se for Skala ou Catupiry. Quase todas as outras serão generalidades tão ruins que impõem às marcas excelentes uma má fama. Já ouvi pessoas afirmarem que “não gostam de Catupiry”, mas nunca a provaram, provaram sim, outras marcas compostas de muito amido. O problema é que muitos estabelecimentos em seu menu escreve Catupiry, quando usa uma marca genérica qualquer.
Eu não aceitei. Um requeijão ruim estraga um momento inteiro.
E nesse momento eu estava assistindo a um show de uma banda antiga, ou seja, das boas, Engenheiros do Hawaii.
O líder Humberto Gessinger continua maravilhosamente belo com sua cabeleira loura , sedosa e macia igual àquelas das propagandas de xampu. Mas não é a aparência dele o foco central aqui. É a música.
Que diferença dos dias de hoje. O que aconteceu? Será que emburrecemos? Eu não consigo ouvir música popular ou rock dos dias de hoje (e há rock brasileiro nos dias de hoje?). De forma que a voz de Gessinger e aqueles acordes conhecidos me levaram a outro tempo, mais brilhante. Era um tempo em que nós, jovens, queríamos ouvir uma música que tocasse alguma resposta para nossas vidas incompletas, que preenchesse com sons certos silêncios ou frases ainda não ouvidos, que nos inspirasse e mostrasse para nós que, por mais que o artista fosse lindo, sua música conseguia ser ouvida e, também, que ainda havia música.
Hoje, não existe rock nacional. Com exceção de bandas de minha época de jovem que ainda tocam, o rock nacional é espécie extinta.
Hoje, sertanejos e cantoras pop reduziram o cenário musical a uma calça apertada ou uma calcinha. Qual o valor de Gustavo Lima? De Luiza Sonsa? De Ludmilla? E similares? Está tudo tão diverso que é difícil uma resposta legal…
A sexualização abafou qualquer expressão musical séria. Não é interessante? O sertanejo masculino do agronegócio e o funk feminino da diversidade destruíram a musicalidade saudável nacional.
Dois cupinzeiros.
Porém a madeira de baixa qualidade não é a música nacional. É o público…
A boa música nacional, como a de Gessinger, ainda nos surpreende, mesmo que seja um retorno ao passado.
Rita Lee, Ira!, Nenhum de nós, Uns e outros, Capital Inicial, Cazuza, Engenheiros do Hawaii, Titãs. Isso passou.
E se é público a madeira podre, o que aconteceu?
Aconteceu que fomos deseducados… deixamos para trás aquela highway, e caminhamos por ruelas…