*Antônio Carlos Villaça
Franklin Jorge passeia a sua inquietação pelo mundo. Ele vai e vem. Interroga os seres. Dialoga. Vê o mundo e os homens com infinita curiosidade. Há nele, menino inquieto, inteligentíssimo, uma sede de tudo conhecer, de tudo compreender. Voracidade, diria. Como em Tristão de Athayde. Como em Ortega y Gasset.
Inteligência hipercrítica, lúcida, voraz, sequiosa de participação. Intus legere. Ler dentro, ler nas entrelinhas, ler o avesso da vida (ou das coisas, como prefere Drummond), o que está por trás das palavras, o sumo, a essência, o íntimo intimíssimo.
Conversa Franklin com todos os seres. E capta o fundamental de tudo. Que grande repórter. Que grande entrevistador de almas. Que capacidade de perguntar e ouvir. Mas há por trás ou por dentro do repórter alado um analista sagaz, o mestre, o humanista, o escritor, que vai muito além do jornalista, ainda mergulhado na circunstância.
Franklin escritor, Franklin poeta, Franklin puro artista transcende a circunstância e vê o abismo, convive com o abismo. Vai ao fundo e enxerga longe. Argúcia muita. O menino norte-rio-grandense, na aparência frágil, é fortíssimo, é um atleta da sagacidade. Um senhor analista, um mestre da introspecção. Um ser proustiano.
Claro, Tristão já disse e provou, o jornalismo é um gênero literário. Antônio Olinto adere também a essa tese. Mas há jornalismo e… jornalismo. Franklin faz o grande jornalismo, aquele que fica, aquele que é literatura, aquele que é cultura, aquele que ultrapassa a circunstância para chegar ao interior dos fatos. O gênero por excelência de Franklin é precisamente este – uma espécie de interminável diário, um jornal literário, como gosta de dizer Ascendino Leite, fragmentos de uma prosa límpida que se desdobra sem fim. Sines fines discentes. Um herdeiro de Montaigne. O estilo sincopado, rápido, ofegante, leve, moderno. Sugestivo.
Já estou velho. Posso abençoar. E, no lépido exercício da minha relativa ancianidade, abençoo o jovem Franklin, o sempre juvenil Franklin Jorge, grande escritor de nossa língua, mestre na arte de redigir, jornalista au grand complet, meu companheiro na áspera faina literária, condenado a escrever, a escrever até o fim dos seus dias sobre a terra. Amém. Que assim de fato seja. Para nossa honra e alegria.
Rio de Janeiro, 08 de setembro de 1982.