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Irritável como um velho

Fundador de Navegos dá uma prega no tempo para falar de um tema que interessa a quase todo mundo, a irritabilidade dos velhos; algo que, diria seu velho pai já falecido em Porto Velho, não acaba nem fica pouca.

*Franklin Jorge

Disse Horácio, não lembro se nas Sátiras ou Epístolas, que o velho é facilmente irritável. Por qualquer me dê lá aquela palha, se descontrola e deixa o fel subir-lhe aos gargomilhos. Já o sertanejo, igualmente preciso, costuma declarar que o velho tem o zangador perto e pouco lhe falta para afobar-se, seja porque está chovendo, seja porque não choveu. Uns irritam-se porque sopra o vento, outros porque faz calor.

De fato, nada irrita mais um velho do que não ter o que fazer ou fazer o que mais o desagrada, o não ter o que fazer, enquanto outros, mais moços e dispostos, se afadigam para encurtar o tempo que se distende a perder de vista diante do velho privado da mobilidade que caracteriza o estado de quem está vivo e pode locomover-se sem o apoio Da bengala ou da benevolência.

Não há remédio nem lenitivos para a velhice, senão a conformação que não sobra para todos nem se dá com algum esforço. Geralmente, como velho que sou, prefiro observar e voltar a observar de novo, segundo o conselho que meu, certa vez, o mestre Luís da Câmara Cascudo, em cuja carniça se espoja descaradamente o poeta conhecido entre nós como “O Lagarto” e “Pavão de Galinheiro”, homem rico e incapaz de fazer alguma coisa se não por si mesmo, como mandar pintar em muros um Cascudo mascarado contra o Covid 19 e, dessa forma, dar uma barrigada na pedra do mercado para ficar falado.

Como sabem todos, fujo das polêmicas e só a muito custo me deixou levar por uma dessas ondas, às vezes protelando-as até por 20 anos, como me tem ocorrido com frequência. Agora mesmo, eu poderia chamar o jornalista macauense Vicente Serejo de Cloretinho de Sódio, mas não o faço, pois creio já ser para ele um esforço muito grande carregar aquela barrigona de nove meses. Indevidamente cevadas com recursos dos contribuintes que não podem lucrar com sua subserviência aos poderosos dos quais gosta de lamber-lhes os colhões. Prefiro, no entanto, acariciar o dorso de minha Pikitita, para amenizar-lhe a quimioterapia pela perda de suas orelhinhas que me pareciam transparentes.

Em destaque, da esq. para a dir., Franklin Jorge, Nininha Batista e o poeta Thiago de Mello; acima, FJ quando jovem.