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Joe Shuster, o artista por trás do Super-homem

Colaborador de Navegos faz revelações surpreendentes sobre o criador do Super-homem, personagem ícone das Histórias em Quadrinhos que há décadas tem um público cativo.

*Jamal Singh

Dor. Foi a coisa que mais senti enquanto lia a biografia do criador gráfico do Superman, Joe Shuster, esse maravilhoso quadrinho intitulado A história de Joe Shuster – O artista por trás do Super-homem.  superman é a representação do sonho americano; e a bela vida de Shuster teve diversos paralelos que se assemelham a sua maior criação, mas não foi uma história de heroísmo, e sim uma tragédia moderna.

A mãe de Joe Shuster fugiu dos progoms* na Rússia para as Américas. Shuster nasce no Canadá, mas logo sua família emigrou de novo a procura de oportunidades nos Estados Unidos, onde Joe cresce em Cleveland e lá conhece seu melhor amigo, também judeu como ele: Jerry Siegel. Ambos eram apaixonados por quadrinhos e pulp fictions, mas não podiam ser mais diferentes. Jerry era mais intelectual e artístico, tímido e apaixonado por uma garota de sua escola que nem o enxergava, chamada Lois. Já Shuster era atlético e aficionado por Fisiculturismo, se dava bem com as garotas, e via desenhar quadrinhos como um trabalho.

O quadrinho acompanha o início de carreira deles durantes a grande depressão americana até os anos setenta, quando estreia aquele que é considerado por muitos o melhor filme do Superman, com Christopher Reeve. Lá estão os primeiros trabalhos no jornal da escola, os primeiros contos publicados de Jerry, as primeiras artes expostas de Shuster, suas primeiras tiras, até eles criarem o Superman, um amálgama deles dois. Jerry posou como Clark Kent, alter ego do superman, mas os músculos do herói eram de Shuster com poses tiradas suas revistas de Fisiculturismo. Lois Lane tem o nome da paixão de Siegel, mas era baseada visualmente numa namorada de Shuster. Da nave barca que traz o Superman ainda bebê até a terra (sempre lembrada como uma analogia de Moisés), ao fato do superman ser um imigrante que protege os mais fracos, com histórias mais sociais, tudo reflete as origens judaicas de Siegel e Shuster.

O Superman era uma criação a frente de seu tempo. A ideia de seus criadores era dele estrear uma revista própria, na época que as revistas de quadrinhos ainda eram reedições de tiras de sucesso, não destinadas a matérias inédito. Passam a década colecionando negativas e ouvindo promessas, mas não desistem pois sabem que tem algo importante em suas mãos, e ambos eram jovens determinados a viver de criar.

Jovens demais para perceberem que, ao assinar o primeiro cheque por um contrato de dez anos de trabalho e pelo pagamento do Superman, também estavam cedendo os direitos dele de forma perpétua a National Comics, embrião do que hoje é a poderosa Aol-Time Warner. A National havia sido fundada por um escritor, mas quando comprou o Superman deles, já tinha sido adquirida por homens com ligação com o crime organizado, que tratavam os artistas como meras engrenagens de uma máquina de fazer dinheiro. E se essas engrenagens dessem problemas, deveriam ser descartadas.

O esmagador sucesso do superman criou o gênero de super-heróis e sedimentou o mercado de revistas em quadrinhos nos Estados Unidos, tendo gerado diversas versões do personagem em outras mídias, que renderam uma fortuna para a National. E nada desse dinheiro ia para os criadores do personagem, que recebiam apenas um salário. A criação de personagens similares ao superman fez a National inicial batalhas judiciais por plágio que acabaram gerando o que é hoje a lei de direitos autorais nos Estados Unidos, e quando enfim Siegel e Shuster tentaram reaver seu personagem, a National já estava preparada.

Durante décadas, enquanto a National enriquecia, abria-se para o mercado e então era incorporada a Warner, a carreira e a amizade de Shuster e Siegel se separavam. Shuster de tanto trabalhar acaba adoecendo e perdendo a visão, enquanto Siegel tenta fazer uma cruzada na mídia para chamar a atenção para a causa deles. Siegel continua trabalhando com quadrinhos, o que não é possível a Shuster, que acaba tendo que procurar outros empregos para sustentar seus pais, acaba passando um tempo morando nas ruas e ainda perde a paixão de sua vida para Siegel.

É uma biografia indispensável aos fãs de quadrinhos, que desnuda os personagens em todas as suas pequenezas e fraquezas. Ao lê-la é impossível não se apiedar e torcer por Shuster. Pois foi o criador gráfico, mais do que Siegel, que se revelou ao longo de sua vida um verdadeiro super-homem: Honesto, trabalhador, filho dedicado, eterno apaixonado e amigo leal.

*Os progroms eram perseguições aos judeus que aconteciam na Europa, notadamente no Leste Europeu, que muitas vezes levava a destruição de seus patrimônios e não raramente terminavam em violência física e até mortes.