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José Lins entre nós

Pesquisador e memorialista de Nova Cruz resgata fato esquecido e deplora a falta de memória de nossas instituições e seu desmazelo quanto à documentação

*Antenor Laurentino Ramos

Em conversa com meu amigo Franklin Jorge, um dos melhores jornalistas de nossa terra, fiquei sabendo de certa vez uma visita que o escritor José Lins do Rego fez ao Rio Grande do Norte, mais particularmente a região do Ceará-Mirim, cidade cenário do universo ficcional do notável romancista paraibano. Veio acompanhado do poeta Thiago de Mello, seu grande e fiel amigo. É lamentável que um acontecimento desse porte passe despercebido pelos amantes das Letras, não seja digno de comentário maior.

Muito se tem falado da vinda de grandes vultos ao nosso solo. Acho que José Lins bem que merecia um registro mais detido sobre sua permanência entre nós. Já se falou da viagem que Euclides da Cunha fez a Natal e da pesquisa de campo que o poeta Mario de Andrade aqui realizou sobre o Coco, dança regional dos norte-rio-grandenses. Tudo isso é louvável, mas ficar apenas nisso, é dar a impressão de que somos pobres de eventos. Penso que o autor de “Menino de Engenho” mereceria um estudo mais demorado. A exemplo de Jorge Amado, Graciliano Ramos e Guimarães Rosa, poderia ser alvo de estudo aprofundado em ciclos de palestras, em trabalhos realizados em bibliotecas das escolas e ate em seminários. Causa-me sempre estranheza esse silencio sobre ele nos acontecimentos culturais do nosso estado. José Lins do Rego faz em sua obra um retrato magnífico do nosso nordeste. É um escritor indispensável. Seu povo, suas personagens, seus sonhos e alegria ali estão. A oralidade de seus escritos dá-nos a nos leitores a sensação de participação ao vivo num mundo que ninguém tão bem como ele soube representar. E não se justifica a falta de atenção que costumeiramente ocorre entre nos no que se refere a esse grande autor.

Seria bom também que se convidasse a escritora Elizabeth Lins do Rego, sua filha, em momentos de fatos culturais como o que se deu recentemente em Pipa ou em qualquer outro lugar. Bem que Franklin Jorge poderia entrevistá-la sobre seu ilustre pai. Teríamos chance de conhecer melhor o homem e o escritor, uma das figuras mais fascinantes de nossa vida literária. Leiamos Jose Lins do Rego, procuremos conhecê-lo melhor, não só em seus romances, mas nos belíssimos ensaios e crônicas que produziu. Depois de lê-lo, dificilmente deixaremos de nos prender por ele.