*Franklin Jorge
Durante três anos e meio que estive como membro da equipe da Sala Natal, pode Josivan Alves Pereira, ex-diretor da Casa de Cultura do Banco do Nordeste em Parelhas, um artista de múltiplos talentos, percebeu o quanto é difícil fazer cultura, quando há uma centralização que esbarra nas vontades, nas vaidades e na confecção de projetos que são oriundos de quem está à frente da pasta da cultura.
Mesmo dispondo de farto investimento financeiro (comparado-se Natal a outras cidades), algo notório e histórico que o ex prefeito Carlos Eduardo fez de sua gestão, quando esteve a frente do palácio Felipe Camarão da cultura como uma de suas prioridades. Porém na então recém-criada secretaria de cultura, a orientação contradizia seu discurso. Projetos dos artistas, orientados pela equipe da Sala Natal, coordenada pelo escritor e Jornalista Franklin Jorge, foram relegados às gavetas do esquecimento, inscreveram-nos no ramo das ideias mortas, jogaram-nos dentro das gavetas oficiais. Destaco o espetacular projeto da Mostra internacional de origami, que iria colocar a capital Natal como vitrine mundial da arte milenar asiática, muitos artistas dentro e fora do Brasil já haviam se interessado em contribuir, mas frustrou-se, o projeto ao chegar na secretaria. Sempre ouvimos, do gabinete do secretário, a mesma justificativa para todos os projetos: a não execução, e nos relatos do nosso diretor em conversas privadas com o secretário, que se desculpava por termos tal prefeito, insensível à cultura, lerdo de entendimento, por falta de verba, por mau desempenho do governante, alguém com algum potencial que que estava usando mal e que queimou o seu filme com os artistas, justamente por frustrar projeto como aquele; como não liberar verbas e por não ter autonomia, ele, o secretário que Franklin Jorge diagnosticou como narcisista-famélico, etc.
Via-se claramente, naquelas reuniões e desculpas, a contradição de tudo. Sabíamos que naquele momento o prefeito investira milhões na Cultura. Dinheiro esse que foi distribuído de forma desigual nas áreas cultuais. Enquanto a Prefeitura investia milhares em pagamento de caches para artistas nacionais, os artistas da cidade além de terem os cachês muitissimo inferiorizados, sofriam ainda com a morosidade em receber por seu trabalho. Nossos criadores autênticos foram aos poucos sendo perseguidos e eliminados. Sem falarmos na desvalorização dos projetos regionais e locais, como dos Brincantes de Boi de Reis, pastoris, lapinhas, dentre outros, não conseguiram prosperar, excluídos que foram ao deixarem de ser convidados para os eventos oficiais.
Percebi também a resistência que têm os grupos locais e artistas, pois mesmo sem apoio financeiros, se impunham e fazia a cultura acontecer, posso exemplificar: o evento comemorativo ao dia da poesia, que com garra e parcerias a Sala Natal e artistas realizaram nas ruas da capital uma inesquecível festa. Sob o desprezo do secretário de cultura, doente por aplausos.
[Continua depois]
