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Katharina Wagner cutuca a onça

As mudanças que a senhorita Wagner está planejando para o festival de 2026, quando este completa 150 anos, têm causado alvoroço entre os admiradores do compositor.

*Alexsandro Alves

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Katharina Wagner está cutucando a onça! Eu espero que a vara da senhorita seja muito longa.

A bisneta do mestre pretende fazer algo nunca visto na Casa dos Festivais e que já preocupa a audiência.

Das 13 óperas e dramas musicais de Wagner, 10 são apresentados em Bayreuth a cada ano: O holandês errante, Tannhäuser, Lohengrin, Tristão e Isolda, Os mestres cantores de Nuremberg, os quatro dramas do Anel dos NibelungosO ouro do Reno, A valquíria, Siegfried e Crepúsculo dos deuses – e Parsifal.

As 3 primeiras óperas, que fazem parte de sua primeira fase, nunca foram apresentadas por lá. As fadas (Die Feen), A proibição de amar (Das Liebesverbot) e Rienzi, são ilustres desconhecidas na Colina Verde (como é conhecido o monte em que se encontra o teatro).

O motivo é que Cosima Wagner, sua viúva, e talvez o próprio compositor, não queria dar a impressão de que a obra do mestre tivesse algum outro antepassado senão Beethoven.

Nessas óperas iniciais, Wagner experimenta tudo! Inclusive a ópera italiana, tão criticada por ele: A proibição de amar, além de se passar na Itália, possui aquela facilidade melódica e extrovertida tão caraterística dos italianos. Basta ouvir a abertura para se ter uma ideia.

Rienzi, cujo título completo é: Rienzi, o último dos tribunos (Rienzi, der letzte der Tribunen) tem sua estrutura e sua musicalidade ligadas à Grand Opéra francesa de Meyerbeer, Spontini e Halévy – compositores judeus! Na época, se dizia que esta era a melhor obra de Meyerbeer, tal era o nível de influência que este compositor tinha sobre Wagner.

Grand Opéra foi um gênero de ópera espetacular, com muitos efeitos de palco, cenas em países orientais, figurinos extravagantes – uma mistura de blockbuster hollywoodiano com Glória Perez. Era o gênero operístico mais amado pelos franceses e o que dava mais retorno financeiro, pois era uma forma de arte patrocinada pelos grandes empresários judeus da época.

Wagner sempre teve o sonho de vencer em Paris. No entanto nunca conseguiria, ao menos em vida. Mas Rienzi agradou a Meyerbeer. Este conseguiu, em Dresden, a estreia da obra, que foi regida por Wagner e se configurou no primeiro grande sucesso dele. Com essa obra, Wagner se fez conhecido em território alemão e pela Europa: todos os grandes teatros europeus, inclusive os de Paris, anunciavam temporadas com a ópera. Foi sucesso durante todo o século XIX.

A história, baseada em fatos reais com a inserção de muitos efeitos especiais, gira em torno de Rienzi, tribuno romano em luta contra os senadores patrícios. Tornaram-se amplamente populares a abertura e a ária Allmächt’ger Vater (Pai todo-poderoso), cantada pelo personagem título.

A iniciativa de Katharina é estrear as óperas da primeira fase de seu bisavô em Bayreuth e é muito bem-vinda. Começando por Rienzi, em 2026, primeiro, pela qualidade musical e dramática da obra, que ultrapassam o espetaculoso por si só; segundo, porque os demais teatros a representam, desde sempre, diga-se.

Sob os protestos dos wagnerianos ortodoxos, que venham também As fadas e A proibição de amar.