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La Sylphide, de Schneitzhoeffer, em Natal

O primeiro balé romântico, “La Sylphide”, será apresentado no TAM neste domingo. NAVEGOS publica um artigo da bailarina Ana Silvério, da Ana Botafogo Maison, sobre o tema, para você conhecer mais dessa obra.

*Ana Silvério

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Serviço:

A Companhia do Conservatório do Rio de Janeiro apresenta o espetáculo de dança “La Sylphide”, com classificação livre. O evento acontece no Teatro Alberto Maranhão, Ribeira, neste domingo, 03 de setembro, às 17h. Os ingressos estão à venda por R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia).

 

ARTIGO DE ANA SILVÉRIO (ANA BOTAFOGO MAISON)

O bal­let “La Sylphide” foi revo­lu­ci­o­ná­rio e deter­mi­nante para o desen­vol­vi­mento pos­te­rior da arte do bal­let em sua forma de espe­tá­culo. Após a revo­lu­ção fran­cesa em 1789, o sen­ti­mento de que a exis­tên­cia não mais era fácil e har­mo­ni­osa na atmos­fera anô­nima e opres­siva da revo­lu­ção indus­trial, deu-se ori­gem ao pen­sa­mento Romântico: a dua­li­dade entre o mundo real e dos sonhos.

 

La Sylphide foi o pri­meiro bal­let a expres­sar com­ple­ta­mente a filo­so­fia Romântica, onde o herói está pres­tes a sucum­bir den­tro do “sta­tus quo”, mas desiste de tudo para bus­car a ver­da­deira feli­ci­dade. Ele intro­duz uma visão lírica de um mundo sobre­na­tu­ral, para­lelo à rea­li­dade, povo­ado por seres tão impal­pá­veis quanto os sonhos. Ao per­der o sonho, o herói tam­bém perde a sua vida.

 

O bal­let La Sylphide foi core­o­gra­fado por Filippo Taglioni, espe­ci­al­mente para a sua filha, a legen­dá­ria Marie Taglioni. O libreto escrito pelo tenor Adolphe Nourrit, que teve a ideia ini­cial do bal­let, foi ins­pi­rado no conto de Charles Nodier “Trilby, ou Le lutin d’Argail”. No livro, a his­tó­ria é sobre um duende e a esposa de um pes­ca­dor, mas para o bal­let, os sexos dos pro­ta­go­nis­tas foram tro­ca­dos, pas­sando a ser sobre um fazen­deiro e uma “fada” — isso daria mais opor­tu­ni­dade de explo­rar a dança da bailarina.

 

Com música do com­po­si­tor fran­cês Jean-Madeleine Schneitzhoeffer, o bal­let estreou em 12 de Março de 1832 na Salle Le Poletier da Ópera de Paris. Foi um grande sucesso e Marie Taglioni tornou-se, de ime­di­ato, a “divina Taglioni”.

 

No espe­tá­culo exposto em dois atos, o pri­meiro retrata a vida mun­dana em algum lugar da Escócia, enquanto o segundo ato acon­tece em uma flo­resta e apre­senta seres sobre­na­tu­rais. Pela pri­meira vez, a dança teve mais espaço que a pan­to­mima e os movi­men­tos foram pen­sa­dos e com­pos­tos como forma de trans­mi­tir o enredo da his­tó­ria. Também, pela pri­meira vez, a sapa­ti­lha de ponta foi uti­li­zada como forma de trans­mis­são das ideias, parte da com­po­si­ção do per­so­na­gem. A Sílfide — Taglioni — se apre­sen­tou fazendo uso desta téc­nica do iní­cio ao fim do bal­let, téc­nica que mais tarde foi cha­mada de “dança clássica”.

 

Para o Segundo Ato, foi dese­nhado um ves­tido que des­cia um pouco mais baixo do joe­lho, feito de mate­rial trans­pa­rente e de cor branca. Esse figu­rino, assi­nado por Eugène Lami, tornou-se o pri­meiro tutu de bal­let, e o ato em si, asso­ci­ado ao tutu, deu ori­gem a uma das mar­cas do bal­let român­tico: “les bal­lets blancs” – ou balés bran­cos, onde pelo menos um dos atos da obra, ou toda ela, se passa em um mundo ine­xis­tente ou ambi­ente neu­tro, com os seus per­so­na­gens ves­tindo basi­ca­mente branco. Em geral, é dan­çado pelo corps de bal­let feminino.

 

Em 1834, den­tre os espec­ta­do­res de “Le Sylphide” em Paris, estava August Bournonville, coreó­grafo e bai­la­rino do Teatro Imperial de Copenhague. Ele se encan­tou pela obra e dois anos mais tarde, em 1836, resol­veu montá-la na Dinamarca. A ideia ini­cial era remon­tar a ver­são ori­gi­nal de Taglioni, mas a Ópera de Paris cobrou um preço muito alto pela par­ti­tura de Schneitzhoeffer, invi­a­bi­li­zando os pla­nos e empur­rando a solu­ção para uma nova ver­são. É a ver­são de Bournonville, estre­ada em 28 de Novembro de 1836, com música de Herman Severin Løvenskiold, que mais conhe­ce­mos hoje. Esse espe­tá­culo nunca saiu de car­taz no Royal Danish Ballet.

 

O coreó­grafo fran­cês Pierre Lacotte ten­tou remon­tar a ver­são ori­gi­nal de Taglioni, em 1972, para a Ópera de Paris. Como a core­o­gra­fia ori­gi­nal já havia se per­dido, ele se baseou em notas, dese­nhos e expli­ca­ções arqui­va­das da época da cri­a­ção do bal­let. A core­o­gra­fia de Lacotte é no estilo da época, mas com­ple­ta­mente nova, o que lhe ren­deu algu­mas crí­ti­cas como sendo não autêntica.

 

A ver­são de Lacotte é a mais dan­çada pelas com­pa­nhias bra­si­lei­ras. Segundo o site do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, a pri­meira mon­ta­gem deste bal­let no mais impor­tante palco do país foi durante a dire­ção de Emilio Kalil, que foi de 1995 a 1998.

 

Personagens:

James Ruben: um fazen­deiro escocês.

A Sílfide: uma fada, um espí­rito das flo­res­tas nórdicas.

Gurn: amigo de James.

Effie: A noiva de James.

Madge: a feiticeira.

A mãe de Effie.

 

Enredo:

Ato I – Uma casa de fazenda escocesa.

James, um fazen­deiro esco­cês, irá se casar com uma moça cha­mada Effie. Na noite de vés­pera do casa­mento, James dorme em uma cadeira perto da lareira. Uma Sílfide apa­rece e dança o seu amor por ele, depois lhe dá um beijo. James acorda e fica encan­tado pela visão. Ele tenta segurá-la, mas ela voa pela cha­miné. Ele acorda o seu amigo Gurn, que diz não ter visto nada, e lem­bra James que hoje é o dia do seu casamento.

 

Effie chega com a sua mãe e madri­nhas. A bruxa Madge apa­rece no lugar onde a Sílfide foi vista por último — perto da cha­miné. James vai até lá e fica desa­pon­tado por não ser a Sílfide. Ele tenta expul­sar a bruxa, mas é con­tido pelos con­vi­da­dos que que­rem que ela leia a sorte deles. Dentre as pre­vi­sões, Madge diz a Effie que ela se casará com Gurn, e diz que James ama outra pes­soa. O noivo, furi­oso, expulsa a bruxa de casa.

Enquanto todos se arru­mam para o casa­mento, James fica a sós na sala, quando Sílfide rea­pa­rece. Ela con­fessa o seu amor por ele, que acaba não resis­tindo, e a beija. Observando escon­dido à cena, está Gurn, que secre­ta­mente ama Effie. Gurn vai atrás de Effie para con­tar o que ele tinha visto, mas ao retor­na­rem, a Sílfide já tinha desaparecido.

 

Começa o casa­mento, Sílfide rea­pa­rece, pega a ali­ança de James e foge para a flo­resta. James, apai­xo­nado, larga tudo pra trás e corre atrás dela. Effie fica deso­lada em lágrimas.

 

Ato II – A flo­resta encantada.

 

O Segundo Ato começa com Madge e outras bru­xas dan­çando em volta de um cal­dei­rão onde ingre­di­en­tes estão sendo joga­dos. De den­tro do cal­dei­rão, Madge tira uma echarpe. James e a Sílfide entram, ela mos­tra a ele o seu mundo, con­vi­dando as outras Sílfides a entre­te­rem James dan­çando. Todos eles dan­çam, mas a Sílfide sem­pre evita as apro­xi­ma­ções e os abra­ços de James. Todas voam para outra parte da floresta.

 

No mesmo momento, os con­vi­da­dos do casa­mento de James com Effie pro­cu­ram por ele na flo­resta. Gurn acha o cha­péu de James, mas Madge diz para ele não con­tar nada a Effie, e o sugere pedir Effie em casa­mento. Ele assim o faz e ela aceita.

 

James encon­tra Madge, que lhe dá a echarpe dizendo que se ele colocá-la ao redor da Sílfide, as suas asas cai­rão, fazendo com que ela não possa mais voar. Sílfide entra e per­mite que James lhe colo­que o pre­sente, mas quando isso acon­tece, as suas asas caem e ela morre nos bra­ços dele. As outras Sílfides levam o seu corpo sem vida embora.

 

Madge entra e mos­tra a James o que ele per­deu: ao fundo, pode-se ver as fes­ti­vi­da­des do casa­mento de Effie e Gurn. Ele sucumbe, caindo no chão. O bal­let ter­mina com a Bruxa triun­fando sobre o corpo de James. O mal vence.

 

Fatos curi­o­sos:

 

Em 1836, o com­po­si­tor Løvenskiold tinha ape­nas 21 anos. Marie Taglioni tinha 28.

 

O momento em que Gurn encon­tra o cha­péu de James, e Madge diz para ele pedir Effie em casa­mento, foi intro­du­zido por Bournonville.

 

O elenco ori­gi­nal na ver­são de Talgioni foi Marie Taglioni e Joseph Mazilier. Na ver­são de Bournonville: Lucile Grahn e o pró­prio August Bournonville.

 

Em 1892, Marius Petipa remon­tou a ver­são de Taglioni no Teatro Imperial em São Petersburgo, adi­ci­o­nando música de Riccardo Drigo. A vari­a­ção com­posta por Drigo para a bai­la­rina Varvara Nikitina, que inter­pre­tava o papel de Sílfide, foi depois, em 1904, colo­cada por Ana Pavlova no Grand Pas Classique do bal­let Paquita.  É hoje a vari­a­ção dan­çada pela bai­la­rina líder. (Segundo o site em inglês da Wikipedia)

 

Na ver­são de Johan Kubborg, feita para o Royal Ballet de Londres em 2005, Madge, no final, levanta um pouco a sua saia mos­trando parte de um tutu, suge­rindo que ela mesma era uma Sílfide caída.

 

O bal­let La Sylphide é cons­tan­te­mente con­fun­dido com o bal­let “Les Sylphides”. Les Sylphides tam­bém é um bal­let blanc, core­o­gra­fado por Mikhail Fokin com música de Frédéric Chopin, orques­trada em 1892 por Alexander Glazunov. A suíte foi inti­tu­lada “Chopiniana Op. 46”, título pelo qual o bal­let “Les Sylphides” tam­bém ficou conhe­cido. Na Rússia, inclu­sive, ele é muito mais conhe­cido como Chopiniana.

 

A ordem do bal­let na par­ti­tura de Severin Løvenskiold:

 

Ato I

Overture (aber­tura)

Introdução

A entrada de Effie

James – Effie – Madge. Cena da lei­tura da sorte

James e a Sílfide – Cena da Janela

Chegada dos con­vi­da­dos – Pas d’Ecossaise

Pas de Deux – Reel

Finale

 

Ato II

 

Cena da Bruxa

James e Sílfide – Cena da Floresta

A Sílfide chama pelas outras Sílfides

A cena das Sílfides – Divertissement

James per­se­guindo a Sílfide

Gurn – a bruxa – Effie

James e a bruxa – a echarpe

Finale

Finale: Pas de Deux