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Legado negligenciado

Ex-diretor da Sala Natal, fundador e diretor de Redação de Navegos lamenta o abandono do projeto criado por ele que fomentava a arte e a cultura natalenses; ele credita o fato à pouca capacidade do secretário de Cultura da cidade, o qual resumiu valores artísticos e culturais locais ao entretenimento e à diversão

Franklin Jorge

Ao estruturarmos a Sala Natal da Secretaria Municipal de Cultura, em 2015, consideramos contribuir para a formação de um público mais crítico e exigente, apto a reivindicar mais e mais dos gestores culturais, em grande parte escolhidos por apadrinhamento político ou porque aparentemente não podiam, no desempenho da função, fazer tanto mal aos interesses dos governantes numa área geralmente desprestigiada.

Resumindo, nossa depauperada cultura sempre contou com rebotalhos em cargos de gestores. Uma gente escolhida a dedo por sua mediocridade e falta de iniciativa. Ninguém conte com gente capaz trabalhando honesta e profissionalmente nossa cultura.

Para não perdermos tempo, minha equipe e eu, constituída pelo multiartista Josivan Alves Pereira e a jornalista Débora Sousa, empreendemos através de cada evento a definição de um processo de trabalho que fosse a um só tempo prazeroso e fecundo, como um aprendizado capaz de envolver a todos em um momento único forjado para repercutir e fazer as cabeças pensantes.

(Preciso fazer uma ressalva: essa minúscula equipe comportava mais gente, colaboradores voluntários, pessoas, enfim, que se deixaram empolgar por ideias novas, além de quererem embarcar numa grande aventura intelectual.)

Assim, cada evento criaria um padrão que legaríamos às futuras gerações, como resultado da nossa filosofia de trabalho. A filosofia que devia reger e expressar o espírito da Sala Natal. Cada evento, como deve ser generosamente a arte, criação e aprendizado. Fosse no planejamento, produção e montagem de uma exposição – mais que um acontecimento –, na produção e editoração de livros, leituras dramáticas, intervenções estéticas e urbanísticas etc. Isto porque, no dia a dia, pude observar o despreparo do secretário de Cultura Dácio Galvão para extrair o melhor de cada um de seus assessores.

Fomos boicotados, surpreendentemente, pelo próprio secretário, que em sua arrogância e mediocridade sentiu-se ameaçado com a perspectiva de mudar o rumo das coisas e destronar o marasmo.

Franklin Jorge, diretor de Redação da Navegos, é autor dos livros “Ficções Fricções Africções” (Mares do Sul; 62 págs.; 1999), “O Spleen de Natal” (Edufrn; 300 págs.; 2001), “O Livro dos Afiguraves” (FeedBack; 167 págs.; 2015), dentre outros.

O PÃO DA ALMA PRETERIDO PELO CIRCO FESTIVO Prédio projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer para o Parque da Cidade Dom Nivaldo Monte, no qual funcionou a Sala Natal; projeto, que contou com a colaboração de voluntários, abrangia artes visuais, literatura, cinema e outras modalidades artísticas e culturas