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Leitor certo ressuscita o mundo

O mais importante escritor do século passado obstinadamente preterido pela Academia Sueca, descreve o livro como um conjunto de símbolos mortos que podem ganhar vida nas mãos do leitor certo.

*Jorge Luís Borges

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Acho que Emerson escreveu em algum lugar que uma biblioteca é uma espécie de caverna mágica cheia de mortos. E os falecidos podem renascer, podem ser trazidos de volta à vida quando abrimos suas páginas.

Falando do Bispo Berkeley, lembro-me dele escrever que o sabor da maçã não está na própria maçã – a maçã não tem sabor em si mesma – nem na boca de quem a come. Requer um contato entre os dois.

O mesmo acontece com um livro ou uma coleção de livros, com uma biblioteca. Bem, o que é um livro em si? Um livro é um objeto físico em um mundo de objetos físicos. É um conjunto de símbolos mortos. E então chega o leitor certo, e as palavras – ou melhor, a poesia que as palavras escondem, já que só as palavras são meros símbolos – ganham vida, e testemunhamos a ressurreição do mundo.

Jorge Luis Borges

O enigma da poesia

Palestra proferida na Harvard University Course 1967-1968

Foto: leitura de Robert Louis Stevenson