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Lembrando Dona Francisquinha

Fundador de Navegos revisita uma das mais exitosas empreendedoras da mais amada e caluniada profissão da humanidade. Uma grande dama chique, dona de uma conversa encantatória que escandalizou Natal nos anos da Segunda Guerra e que faz parte da crônica natalense.

*Franklin Jorge

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Mulher refinada e elegante nos modos e nos vestir, empresária movida por uma visão capitalista, dona Francisquinha explorou industrialmente, a partir da 2ª Guerra, a prostituição em Natal. Não amealhou fortuna, ao contrário de Maria Boa, pois o dinheiro só valia quando tinha o poder de comprar e dar-lhe a boa vida que pedira a Deus. Quando a conheci, vestia-se sempre de seda preta. Não se descuidava da maquiagem.

No curso de nossa velha e calorosa amizade, dela ouvi, em seus almoços dos sábados – quando fazia seu famoso carneiro com batatas e nos servia um bom uísque, a mim e ao Dr. Sebastião, médico e pessoa muito agradável. Uma tarde, passando pela Ribeira onde ela residiu maior parte de sua vida, revelou que o médico afável patrocinava esses banquetes para três convivas que por algumas horas conversavam, lembravam, riam e davam uma prega no tempo. Já não gostava tanto da feira das Rocas, incomodada e a um tempo lisonjeada em seus 86 anos, pelo tesão dos molecotes.

Criada desde menina segundo as regras do bom-viver, jamais lhe passara pela cabeça tornar-se puta e dona de bordéis. Casada bem nova, não suportou os ciúmes do marido, rapaz jovem e bonito, filho de ricos fazendeiros paraibanos. Preferiu fugir e em Natal, nos primeiros anos da Guerra, trabalhou no Grande Hotel como manicure e ali conheceu um soldado americano que lhe mudou a vida, ao sugerir-lhe que a prostituição era mais lucrativa: “Sozinha, você será apenas mais uma prostituta. Porém, se tiver um plantel de mulheres bonitas e educadas, cujos serviços possa vender, fará bons negócios”. O americano emprestou-lhe os dólares e a bela e cativante Francisquinha, moça de Florânea, tornou-se prestigiosa cafetina. Vivendo, enquanto durou a Guerra, com o seu Bill.

Amou o militar americano loucamente, abriu seu primeiro bordel, o primeiro dos 7 bordeis, uma espécie de holdin

Pin up meramente ilustrativa.

g do sexo e escandalizaram Natal desfilando em um carro esporte importado, sem capota, e dando grandes festas. Como uma rainha, frequentava o comércio à frente do que ela chamava de ‘’meu plantel’’, formado por trabalhadoras do sexo, de dez a quinze mulheres elegantes e bem-vestidas com um luxo que afrontava as famílias.

Mulher inteligente e afável, dona de uma conversa cheia de sortilégios, proporcionou-me com a sua verve alguns sábados inesquecíveis, quando falava longamente sobre a crônica secreta de Natal.