• search
  • Entrar — Criar Conta

Lembrando Dona Gena: Escritora, Política, Devota

Fundador de Navegos escreve sobre uma de suas mais importantes mulheres que lhe exerceram influência. E assim, pelas veredas de suas memórias, conhecemos uma personagem que exerceu influência política, literária e religiosa, a um só tempo.

*Franklin Jorge

[email protected]

 

Maria Eugênia Maceira Montenegro, dona Gena foi uma de minhas Mestras oficiosas. Escritora, nascida na antiga Lavras do Funil, tornou-se potiguar pelo casamento com o engenheiro agrônomo Nelson Borges Montenegro. Aqui, escreveu livros e se meteu na política, elegendo-se prefeita de Ipanguaçu, onde criou o Teatro Sinhazinha Wanderley e a Biblioteca João Lins Caldas, que ajudei a montar e cujo acervo, anos depois, foi furtado por particular, que assim lesou os ipanguaçuenses. Foi uma prefeita ativa e zelosa que quis o melhor para Ipanguaçu.

Foi, esse furto, uma decepção para todos nós. Para mim, sobretudo, que fizera gestões no Instituto Nacional do Livro, junto ao General Humberto Peregrino, pessoalmente, no Rio, para liberação de livros úteis ao aprimoramento intelectual dessa ribeira do Assú.

Ao pensar sobre essa mineira que aos 24 anos, em plena mocidade, se radicou no Assú, de onde não mais saiu, agora, como parte de sua história; da história de uma bela mulher que, pelo casamento, viaja para terras distantes, agrestes, em tudo o oposto das terras mineiras.

Primeiro, ao chegar ao Rio Grande do Norte, morou alguns meses em Natal, aonde chegou auspiciosamente às vésperas da Festa de Natal. Foi muito bem recepcionada por seus novos amigos e por todos aqueles que desejavam conhecer ‘’a Mineira’’. Veraneou na Redinha, entre sábios, seu tio Pedro Amorim, médico e deputado estadual; Antônio Soares, desembargador, membro do Instituto Histórico e Geográfico, autor do célebre soneto Noivos, dedicado ao meu avô paterno que noivara de Diolinda Wanderley da Fonseca, da velha grei do engenho Mangueira, origem das famílias pernambucanas tradicionais.

Na Fazenda Pìcada, conviveu Dona Gena, mais amiudadamente com o poeta João Lins Caldas e, ao mudar-se para a praça que hoje devia ter o seu nome, por mérito e justiça, recebia-o em sua biblioteca que acolhia os clássicos, a modernidade e os autores contemporâneos, alguns detentores do Prêmio Nobel de Literatura.

Conversavam durante horas que passavam rápidas, sobretudo sobre a literatura e a pobreza do meio que atrapalha o gênio.

O Assú foi muito ingrato com essa admirável mulher que se mostrou benfeitora da Congregação Presbiteriana, tendo construído as suas expensas o templo que acolhe a todos e acolheu a mim, no culto dominical a que compareci na companhia de minha anfitriã. Em sua casa, dormia na cama que pertencera ao ex-presidente João Café Filho, que no Ceará-Mirim, por algum tempo, viveu no velho casarão onde nasci e minha avó materna se casou em primeiras núpcias.

O pastor quis saber de maneira sutil quem seria o acompanhante de ilustre benemérita. “Se, por acaso – disse e repetiu -, estivermos recebendo algum ilustre visitante em busca da Graça, manifeste-se… Há alguém, aqui, que não conhecemos?”. Dona Gena advertiu-me: “o pastor está se dirigindo a você. Levante-se… Cumprimente-o com humildade… Tome minha Bíblia. Abra-a ao acaso e leia em voz alta o versículo que cair sob os seus olhos…”, assim fiz.

Dona Gena e Franklin Jorge.