*Alexsandro Alves
Nesse ano de 2022, a Sinfonia n. 8, Inacabada, de Schubert, completa 200 anos. Dentre tantas inacabadas, ela, além de ser a mais famosa, é também a mais difícil de se chegar a um consenso dos motivos que levaram o compositor a literalmente se negar a concluí-la.
Todas as sinfonias anteriores de Schubert, isto é, seis sinfonias, foram compostas para orquestras amadoras, muitas delas de amigos boêmios do compositor. Com a sinfonia em si menor, a Inacabada, isso mudaria. Foi a primeira sinfonia idealizada para uma orquestra de renome. Na época, o compositor estava passando necessidades financeiras e precisava urgentemente de uma encomenda que o tirasse do sufoco.
É quando ele recebe uma proposta para um balé. Ora, uma obra para teatro dá mais retorno financeiro do que uma estritamente musical. E sendo assim, Schubert abandona sua sinfonia e se lança na composição de seu balé Rosamunde. De fato, há indícios de que o grande entreato em si menor desse balé (Rosamunde, D. 797, Entr’acte n.1, in B Minor) seja o final da sinfonia. Esta peça é em si menor, usa a mesma instrumentação que Schubert especificou para a sinfonia em si menor e, sobretudo, a atmosfera é semelhante aos dois primeiros movimentos. Infelizmente Schubert não nos deixou comprovação inequívoca disso, embora muitos estudiosos apontem nessa direção.
Há os que insistem que Schubert sempre planejou uma sinfonia em dois movimentos, essa teoria é a que faz menos sentido, pois há um manuscrito para piano completo em que se lê: “Sinfonia em si menor, terceiro movimento, scherzo.” Apenas 20 compassos desse manuscrito foram orquestrados. Schubert morreu em 1828, tinha apenas 31 anos.
A obra permaneceu escondida até mesmo do compositor. Schubert a esqueceu na gaveta de um criado-mudo de um quarto de hotel! Apenas em 1865, quase 40 anos após a morte de seu autor, é que a sinfonia foi encontrada e estreada em sua forma de dois movimentos. Sua descoberta deveu-se a um certo Johann von Herbeck, colecionador de autógrafos de Schubert, que varreu a Europa, indo em cada lugar que Schubert morou ou se hospedou, sem dúvida, apenas a loucura é capaz de grandes feitos!
Escutem essa sinfonia. Ela é considerada a primeira sinfonia genuinamente dentro do espírito romântico. O primeiro movimento se inicia com um sombrio si grave nos violoncelos e contrabaixos, pianíssimo, aos poucos entram violinos e violas, quando então, por cima, pairam oboé e clarinete, aí é quando, com docilidade, nós fechamos os olhos. E pouco a pouco, a delicada melodia assume uma feição trágica, mas em ritmo de valsa!
É linda demais.