*Francisco Alexsandro Alves
Agora a literatura potiguar é obrigatória nas salas de aula do estado, uma notícia que muitas já aguardavam. Todavia perguntas importantes precisam ser feitas: quais autores e livros irão para a sala de aula? Quais os critérios? E como despertar interesse nos alunos por algo que não faz parte do ENEM? Essa última pergunta surge de outra maneira: como os discentes entenderão que a literatura está além de coisas práticas do dia a dia e, consequentemente, eles precisam preencher seu tempo, agora, com algo sem importância para o ENE
A iniciativa pode trazer novos leitores, sem dúvida. Há público para todos, desde que sejam apresentados aos livros. E precisam ser apresentados por quem leu os livros. Os professores precisam ser leitores, para passar credibilidade, e acreditem, nem sempre os professores gostam de ler, assim como muitos pais de alunos também não gostam. Ler não é investimento. A intenção com essa nova lei (e dia comemorativo) é boa. No entanto, como de boas intenções o inferno está cheio, a lei precisa acompanhar-se de práticas educativas que não tornem a nossa literatura um estorvo para os discentes.
Além disso, a questão regionalista que abarca o termo “literatura potiguar”, também é importante. Com exceção de Câmara Cascudo e alguns outros folcloristas, quantos autores se debruçaram sobre o que é ser potiguar? Porque não adianta termos uma disciplina denominada literatura potiguar, se os livros não refletem o povo potiguar. Se não nos encontramos, enquanto potiguares, nos livros de literatura potiguar.
Um autor potiguar não o é apenas porque nasceu no Rio Grande do Norte. Ele precisa penetrar nas tradições, nas maneiras de falar, nos hábitos, enfim, no que a sociologia weberiana denomina de “tipo ideal”. Qual é o tipo ideal do potiguar? O que nos caracteriza enquanto povo que nos difere do povo de outros estados? Em que autores potiguares, com exceção dos já citados no início do parágrafo, podemos encontrar essas inquietações? Se não há, precisa haver e de preferência na ficção: no conto, na novela e no romance.