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Londres inesquecível

Notável memorialista, autor de livro-fundador sobre Nova Cruz, onde passou parte de sua infância, o autor de Memorial da Anta Esfolada [Feedback, 2013]  registra aqui suas impressões de Londres.

*Antenor Laurentino Ramos 

Um certo escritor potiguar afirmou que Londres era imensa e triste. Não sei, acho que imenso e triste era o que ele sentia. Não concordo com tal afirmação; é uma questão de estado de espírito. Eu diria o contrário, que Londres é imensa e alegre, pois foi o que lá senti.

A capital da Inglaterra, a exemplo de Paris, é inconfundível, tem personalidade própria. Nada lembra cidades outras como São Paulo, Nova York, a não ser pelo tamanho. Mas o seu gigantismo não esmaga o homem como na pauliceia e na grande metrópole norte-americana. Temos vontade de andar ao Leo e uma sensação de liberdade sem igual, é o que ela nos transmite.

Muito arborizada, pode atestar-nos que, o progresso não é, necessariamente, antagônico à natureza. Realmente, a Capita do Império parece mais vazia que Paris. Talvez, suas avenidas largas, seu traçado urbanístico e um certo ar de disciplina, no seu viver, é que nos deixa tal impressão. Puro engano, Londres é bastante populosa e o seu povo, apesar de recatado e gentil, exterioriza, em certos lugares e em certos momentos, o seu espírito festivo.Seria preferível que víssemos a metrópole britânica em seus aspectos multifacetados. Ela é um pouco de tudo isso. Provavelmente, é a visão reducionista que temos das coisas, que nos impõe esse modo de ver, e não tal qual a coisa é.

Se nas praças e parques londrinos, o conúbio com a natureza se faz intenso, inclinando-nos à reflexão e o verde abundante muito contribui para isso, pode-se igualmente, na capital inglesa, respirar a trepidação das grandes cidades, dentre as quais, reina absoluta. Impressiona-nos o quanto os ingleses sabem tão bem harmonizar essa sua dicotomia, barulhenta e frívola, calma e reflexiva ao mesmo tempo.

A singularidade de seu povo é que faz o seu sucesso. Seu Direito costumeiro funciona melhor dom que os outros, onde rege a norma escritas. De seu transito, nem é necessário falar. É um povo notável por sua história e sua humanidade, esse povo inglês. Quem vai lá, de lá não quer sair.

Impossível esquecer de Piccadilly Circus com o seu ar de festa de fim de ano! Suas ruas iluminadas, com suas lojas que mais parecem parques de diversão, fazem dele um lugar encantador. As igrejas, principalmente, a Abadia de Westminster, é outra das emoções que nos traz. O legendário Big Bem com o qual sonhei tanto nos meus tempos de menino. Lembrava-me o saudoso professor Roque e suas aulas de geografia, no antigo Ginásio Natal. Quantas vezes, em suas gostosas lições, descrevia-me aquele recanto da capital inglesa! E eu sentia um desejo enorme de vê-lo de perto. Agora, estava eu alia contemplá-lo, extasiado, o Big Ben. Não acreditava que aquilo era verdade.

A estátua de Churchill recorda-nos a grandeza desse ilustre Chefe de Estado. O papel de relevância que teve na guerra mundial, testemunhava para nós, visitantes, a gratidão daquele povo que, graças a ele, teve de verter, segundo suas próprias palavras, Sangue, Suor e Lágrimas, para que não morresse a liberdade. Winston Churchill representa para o povo inglês o que Charles De Gaulle representa para a França. Ambos marcam, em seu tempo, nos seus países, a vitória da democracia sobre o despotismo e a ditadura.

Outros lugares de Londres prendem-nos a atenção também. A visita ao Museu Britânico, onde está a Pedra da Roseta, de Champollion, a Torre de Londres, onde sofreram Ana Bolena e tantos presos políticos, o Parlamento e a Ponte Levadiça sobre o Tâmisa, de águas ue poluídas. E não se poderia deixar de falar sobre a troca da Guarda Rainha, defronte ao Palácio de Buckingham  É outro momento importante e simbólico da grandeza e do poderio desse império.

Não se vê a rainha nem os seus familiares, só a cerimônia que cala fundo no visitante. O Hyde Park, bem perto, impressiona-nos por seu tamanho. É ponto de reuniões, de passeios, de esporte e de manifestações políticas de operários e de estudantes. Ali se pode tudo. Critica-se o Governo, mas não a Rainha.  Ela é o símbolo maior da Nação. A distinção é grande que o cidadão faz entre Chefe de Governo e Chefe de Estado. A Soberana é a garantia maior da permanência das instituições, de seu bom funcionamento. É a sua referencia maior; é, portanto, incriticável. Já o Primeiro Ministro, este sim, é o responsável pela administração do país. Pode ser criticado por seus governados, destituído até, de suas funções.

Foi uma aula de civilização o que tivemos, quando de nossa estada na Inglaterra! Londres dá-nos logo, de entrada, a medida do valor de seu povo, historicamente, prestigioso perante o mundo.

Voltei apaixonado por Londres. Não fossem os incômodos do clima frio que não me faziam bem à saúde, teria ficado mais tempo lá.

O meu professor de Direito Internacional Público, o saudoso doutor Américo de Oliveira Costa dizia-nos, em sala de aula, que só conheceríamos melhor nosso país e nossa civilização, conhecendo terras estrangeiras. Teríamos, assim, segundo ele, condições de estabelecermos um paralelo entre nós e os habitantes de terras outras. O aprendizado resultante desse contato de culturas e idiomas diferentes entre povos, viria logo a seguir.

Acho que ele tinha razão. Pude sentir isso, pois esse aprendizado, através de viagens, incorpora-se ao nosso viver, e é inestimável. Valeu a pena tudo isso!.