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 Longe daqui, aqui mesmo

Norte-riograndense transplantado para o longínquo estado de Rondônia, artista plástico e escultor traça um paralelo sobre a dificuldade de produzir quando os gestores competem com os próprios artistas e os desvalorizam em detrimento de seus interesses.

*Franklin Jorge

Como foi o seu encontro com a arte?

Através de um atelier que funcionava no bairro que morava em Fortaleza com 17 anos fui ser assistente de um velho artista comunista.

A seu ver, para que serve a arte?

A arte como disse o poeta é necessária porque a vida só não basta

A minha arte tem por objetivo tornar a cidade mais agradável e se possível revelar alguma identificação com o seu interlocutor, não com objetivo de modelar ou propor alguma mudança no comportamento das pessoas

Que lembranças guarda de Natal?

Guardo de Natal a mesma lembrança da realidade que encontro em Porto Velho, cidade bonita, mas abandonada. Ponta Negra é a orla urbana mais bonita do Nordeste e infelizmente os gestores da cidade a desprezam. Morei na Ribeira, que é o reflexo do abandono da cidade aqui em Rondônia, despreza a figura do Marechal Rondon, em Natal a de Câmara Cascudo, que futuro estas cidades podem ter?

E do seu cenário artístico?

Morei em Natal no tempo que o salão de artes da cidade só quem ganhava era os dois Marcelus, sempre com o mesmo trabalho e técnica e o Guaraci Gabriel que ainda propunha alguma coisa

Gostaria de denunciar que uma peça que mede 1,20cm que doei a Pinacoteca do Estado foi roubada na gestão daquele Francês, não recordo o nome dele, mas tenho documentos que provam a doação, pra minha surpresa ninguém sabe do paradeiro deste trabalho

Natal tem mestres artistas como Fernando Gurgel e Madé Weiner; acho que estes exemplos são suficientes

Como vê a perpetuação de gestores ineptos em funções culturais?

Fico perguntando até quando vamos aceitar gente boçal e sem escrúpulos como Dácio Galvão gravar um disco com o pessoal que todo ano ele traz pra Natal usando dinheiro público, isto é, no mínimo, desonestidade

A Princesinha de Bambaluar espetáculo produzido na época pelo governo do estado foi o maior gasto de dinheiro público que eu puder ver, já que na época era técnico da secretaria de educação onde boa parte do dinheiro que produziu este evento foi tirado, um verdadeiro assalto

Crê que a crítica ajuda o artista?

A crítica é fundamental pra o crescimento do artista, agora críticos de arte com capacidade pra analisar e comentar com isenção e liberdade é cada dia mais difícil

Como vê a falta de memória e a preservação de documentos?

Morei na cidade de Ariquemes onde a memória da cidade foi completamente perdida, do índio Arikemes não ficou nada, absolutamente nada. Isto acontece em todo lugar do Brasil, nossa memória vem sendo estuprada por esta cambada de gestores despreparados, a arte assim como a educação só tem gestores sem qualificação. Criei aqui em Rondônia um projeto de bustear as figuras históricas do estado, que venho realizando com recursos próprios, evidente que isto não interesse ao poder publico

Que diria da destruição dos velhos casarões do Açu?

Açu e seus velhos casarões destruídos, morei na cidade nos anos 90, a cidade era e continua sendo feudo artístico de um único artista com seus murais e obras espalhadas por toda cidade Açu em quando não se libertar da família Soares Montenegro não terá nenhum futuro

Gostaria de informar que tenho uma escultura publica em Natal que está fincada numa loja de venda de automóveis ao lado do monumento da estrela, não sei se os dois ainda estão de pé. No momento, estou também produzindo a exposição individual Mabi, um poodle na minha vida. que será realizada este ano na cidade de Porto velho.

Em destaque, detalhe da fonte em frente à Prefeitura de Ariquemes; ao lado, fotografia do artista.