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Longe é um lugar que não existe

Colaboradora de Navegos deixa a política um pouco de lado e escreve sobre um dos bens mais preciosos, a amizade, que Dante descreve como o “pão dos anjos”.

*Nadja Lira

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Texto escrito em homenagem aos meus amigos de perto e de longe. Aos antigos e aos recentes, enfim, a todos eles que tornam a minha vida melhor.

Adolescente se encanta com muita coisa e na minha época de adolescente, eu me encantei com o livro de Richard Bach, cujo título é – Longe é um lugar que não existe. O livro conta uma história sobre amor e amizade, onde tais sentimentos se aprimoram através de uma jornada empreendida, na qual dois seres podem se encontrar, se assim o quiserem. O livro me veio à lembrança, depois que recebi o telefonema de uma amiga querida que está fisicamente distante de mim.

Amigo, segundo a definição dos dicionários de Língua Portuguesa, são sujeitos com os quais mantemos relação de afeto e de companheirismo. O amigo também é considerado como um camarada, um colega, alguém em quem confiamos e compartilhamos alguma coisa. Para mim, amigo é alguém muito especial, com quem não tenho laços sanguíneos, mas eu o escolhi para ser meu irmão.

Partindo desse princípio, não importa qual seja a distância geográfica que me separe desta criatura, nós estaremos sempre juntos, unidos por um sentimento de fraternidade, porque eu acredito, com extrema convicção, que “longe é um lugar que não existe”. Logo, meus amigos estarão sempre comigo: tanto no meu pensamento como no meu coração.

A língua grega, diferentemente da língua portuguesa faz três distinções ao amor: Eros, Ágape e Filia. Na Bíblia, estes três tipos de amor definem a intensidade do sentimento, através do mandamento: Amar ao próximo como a si mesmo. O desejo é a principal característica do amor Eros. Ágape é o amor benevolente e que não é destinado à uma única pessoa, mas a humanidade na sua totalidade. E o amor Filia implica no desejo de partilhar a companhia do outro, seja pelo prazer desta companhia ou por sua utilidade.

Para o filósofo estagirista, Aristóteles, a amizade entre os bons e virtuosos, implica em um querer o bem do outro e ter prazer em sua companhia. Esta, segundo o filósofo, seria a amizade perfeita, pois estes dois seres desejam igualmente o bem um do outro.

Vivemos em um mundo onde, segundo o sociólogo e filósofo Zygmunt Bauman, tudo é líquido, fortuito, rápido demais. Inclusive as amizades e outros sentimentos.  As pessoas, particularmente os mais jovens, estão profundamente voltadas para os seus próprios interesses e já não dispõem de tempo para desfrutar da companhia e das conversas com os amigos.

Pertenço à uma família que tem por hábito preservar as amizades por diversas gerações. E assim, cultivamos amizades que já estão na terceira geração. Começaram com meus pais e continuam entre filhos e netos. A importância destas amizades é tão grande, que ao saber da morte de uma das suas amigas de infância, minha mãe teve um choque tão grande, que sofreu um Acidente Vascular Cerebral (AVC).

Para mim, não pode haver alegria maior do que estar entre amigos para compartilhar alegrias, tristezas ou simplesmente para jogar conversa fora, enquanto saboreamos um café.

Para minha desdita, uma boa parte dos meus amigos queridos estão fisicamente distante de mim. Seja porque moram em bairros afastados do meu, ou por estarem em outros estados e até em outros países. Contudo, tenho a grande satisfação de poder contar com cada um deles, a cada vez que preciso de colo. Eles também sabem que podem contar comigo para qualquer situação. Para isto servem as famílias. E mais: alguns são tão amigos, que a própria natureza se encarregou de nos presentear com o mesmo nome de família: LIRA.

Portanto, quando ouço alguém dizer algo como “não vou visitar você porque sua casa fica muito distante da minha”, logo penso com meus próprios botões: este jamais será um amigo, pois para um verdadeiro amigo, “longe é um lugar que não existe”.